O Governo já ordenou a abertura de um inquérito para determinar como funcionaram os mecanismos de reporte da ocorrência e de lançamento de alertas. As informações de várias autoridades não coincidem e há muitas perguntas em aberto.
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O fim de semana ficou marcado por uma tragédia, com a queda de um helicóptero do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), ao final da tarde de sábado, no concelho de Valongo, distrito do Porto, que causou a morte aos quatro ocupantes.
A aeronave envolvida no acidente é uma Agusta A109S, operada pela empresa britânica Babcock, que regressava à base, em Macedo de Cavaleiros, Bragança, depois de ter realizado uma missão de emergência médica de transporte de uma doente grave, de 76 anos, com problemas cardíacos, para o Hospital de Santo António, no Porto.
A bordo do helicóptero estavam dois pilotos, um médico e uma enfermeira que morreram na sequência do acidente.
Qual a origem do acidente?
A avaliação preliminar dos destroços da aeronave acidentada no sábado indica que a queda da aeronave aconteceu na sequência da colisão com uma antena emissora existente na zona. De acordo com o "jornal i" desta segunda-feira, a falta de iluminação no topo das antenas na Serra de Pias, em Valongo, poderá estar na origem do acidente.
O mesmo jornal adianta que, ao início da noite de domingo, todas as outras antenas no topo da Serra das Pias estavam sem qualquer tipo de iluminação, mas sublinha que ainda não foram oficialmente reveladas as conclusões do relatório preliminar.
O INEM sublinhou que "o incidente ocorreu numa altura em que se verificavam condições meteorológicas bastante adversas".
Quando é que se perdeu o sinal da aeronave?
As informações sobre a hora a que se perdeu o sinal do helicóptero não coincidem.
De acordo com o INEM, o último sinal da aeronave terá sido por volta das 18h30, mas a Navegação Aérea de Portugal (NAV) afirma que o sinal só se perdeu pelas 18h55.
A NAV explica ainda que a perda de sinal não constituiu de imediato um motivo de alarme, porque "devido à altitude e orografia do terreno é normal a perda de sinal e a perda de comunicações" das aeronaves. As primeiras medidas só foram tomadas depois das 19h00, hora prevista de aterragem do helicóptero.
Onde surgiram os primeiros relatos?
Apesar de a Força Aérea ter dito no sábado que alertou a Proteção Civil pelas 20h09, o comandante das operações no terreno, Carlos Alves, garantiu que a Proteção Civil só tomou conhecimento do que se passava às 20h15, graças a uma chamada de um civil que os levou para o terreno.
Para além disso, de acordo com o "Público", a Força Aérea não contactou a central do 112, onde foram recebidos os primeiros relatos, que davam conta de um estrondo e de um clarão. A ausência do cruzamento de informações atrasou o socorro, uma vez que só a junção desses relatos com o desaparecimento da aeronave permitiram acionar os meios de buscas em larga escala, mais de uma hora e meia depois do acidente.
O mesmo jornal explica que pouco tempo após a queda da aeronave vários elementos da GNR e da PSP se deslocaram para perto da zona onde caiu o aparelho.
Quando é que a Proteção Civil foi avisada?
A empresa que gere a navegação aérea (NAV) garante que alertou meia hora após a perda de contacto com o helicóptero do INEM, entidades como a Proteção Civil e a Força Aérea para a falha de comunicação com o aparelho.
Segundo a NAV, à 19h40 foi avisada a Força Aérea Portuguesa, "que é quem ativa a busca e salvamento", 20 minutos depois de terem sido contactados os CDOS do Porto, Braga e Vila Real, que "não atenderam".
Entretanto, os Comandos Distritais de Operações de Socorro (CDOS) de Braga e de Vila Real recusaram não ter atendido a chamada da NAV sobre o acidente de Valongo, garantindo ter operadores "em permanência 24 horas por dia".
Em declarações à Lusa, o comandante do CDOS de Braga, Hermenegildo Abreu, garantiu que "qualquer chamada" ali recebida "é atendida conforme a sequência de entrada", considerando por isso "muito estranho" que a NAV diga que aquela entidade "não atendeu" uma chamada feita ao fim da tarde de sábado devido à perda de contacto com o helicóptero do INEM que caiu em Valongo.
Para o comandante do CDOS de Vila Real, Álvaro Ribeiro, é também "muito esquisito" que uma chamada de quem quer que seja não tenha sido atendida, porque "a sala de operadores tem sempre dois operadores em permanência, 24 sobre 24 horas".
Quais são os próximos passos?
O ministro da Administração Interna determinou a abertura de um "inquérito técnico urgente" ao funcionamento dos mecanismos de reporte da ocorrência e de lançamento de alertas relativamente ao acidente com o helicóptero do INEM.
O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, sublinhou também a urgência de um "inquérito rigoroso" à queda do helicóptero, apontando falhas na intervenção da Proteção Civil.
"Penso que nos assiste esse direito, a nós, Liga dos Bombeiros Portugueses, por todo um conjunto de situações que não estão bem esclarecidas, pedir que se faça um inquérito rigoroso a este acidente", disse Jaime Marta Soares, em declarações à agência Lusa, acrescentando que já fez esta solicitação durante a madrugada ao secretário de Estado da Proteção Civil, José Artur Neves.
Notando que os bombeiros de Valongo foram acionados pelas 20h35, tendo-se dirigido imediatamente ao local juntamente com 22 elementos do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) da GNR e 30 membros do INEM, o responsável relatou que "só às 22h30 é que o CDOS [Comando Distrital de Operações de Socorro] do Porto pediu a sua viatura de comunicações e comando" e que "o senhor CODIS [Comandante Operacional Distrital de Socorro] do Porto só chegou às 23h00 ao local das operações", altura em que "a operação já ia a mais de 90%".
"Quero dizer com isto que a ANPC falhou e quero que isso seja apurado: as responsabilidades técnico-operacionais e as responsabilidades políticas de quem falhou em relação a esta situação", vincou.
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