Ou mudam ou vão para Pedrógão. Ameaça da administração do Parlamento indigna CNE
Humor negro? Membros da Comissão Nacional de Eleições dizem que palavras do presidente do Conselho Administração da Assembleia da República "desrespeitam quem morreu em Pedrógão".
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O braço-de-ferro entre a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e a Assembleia da República devido à mudança de instalações da entidade que fiscaliza os atos eleitorais teve um episódio que deixou indignados vários membros da CNE.
Tudo aconteceu em setembro numa reunião com o presidente do Conselho de Administração do parlamento, o histórico deputado Pedro Pinto, do PSD, eleito há dez legislaturas.
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A história, classificada como "um episódio que torna todo este processo ainda mais chocante", é relatada numa ata da CNE, que a TSF consultou, por três membros: João Almeida, Sérgio Gomes da Silva e João Tiago Machado, que também é o porta-voz da comissão.
Numa conversa (que se percebe pela descrição ter sido 'quente'), numa reunião a 20 de setembro para tentar resolver os muitos problemas levantados contra a mudança de instalações, "o representante do Conselho de Administração da Assembleia da República afirmou que a CNE ou se mudaria para o novo local ou para Pedrógão". Uma frase relatada pelo presidente da CNE e pelo seu porta-voz.
Desrespeito pelas vítimas de Pedrógão
Uma declaração de voto assinada por Sérgio Gomes da Silva e João Tiago Machado (o porta-voz da CNE envolvido diretamente na conversa) detalha o caso e defende que é um sinal evidente de "falta do respeito devido aos cidadãos", sublinhando que não encontram "adjetivos para qualificar tal atitude, expressando a mais evidente indignação".
"Esta afirmação torna totalmente evidente o sentimento do Conselho de Administração da Assembleia da República de que está acima da Lei e do respeito devido aos cidadãos", defendem.
Os membros da CNE acrescentam: "Não vislumbramos maior desrespeito pelas pessoas que morreram em Pedrógão e pelas que poderão morrer em caso de incêndio no edifício para onde se pretende (re)mover a CNE" [a falta de segurança é um dos vários problemas apontados ao futuro edifício].
Quem ameaçou com Pedrógão?
A ata que conta o caso nunca identifica o autor da ameaça ou de uma frase que também parece humor negro, mas a conclusão de que a frase foi dita (segundo a acusação dos membros da CNE) pelo presidente do Conselho de Administração do parlamento, Pedro Pinto, é confirmada porque uma outra ata detalha o único responsável da Assembleia da República presente na referida reunião.
Outro membro da CNE, João Almeida, também relata o caso que classifica como "um triste desaguisado", acrescentando que a ameaça de "enviar a Comissão Nacional de Eleições para Pedrógão foi certamente um lapso, pois foi em Tondela que morreram [no início de 2018] várias pessoas num edifício sem saídas de emergência adequadas" tal como no edifício onde querem colocar a CNE com "portas de todos os pisos que só abrem para dentro".
Em resposta à TSF, a CNE referiu que não quer alimentar polémicas nem conflitos institucionais entre a Assembleia da República e a Comissão Nacional de Eleições. Assim, tudo o que tem a dizer sobre esta matéria está nas atas e nas declarações de voto.
(Notícia atualizada às 14h45 com reação da CNE)
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