Quando é preciso, um autarca até faz de coveiro

"Tenho uma personalidade forte, mas o físico também ajuda e eu sou dotado", Jaime Duarte de Almeida, 73 anos descreve-se assim depois de contar algumas das tarefas que tem desempenhado na Junta de Freguesia de Válega.

A mais peculiar, porventura, foi ter aberto a cova e ter feito o enterro de duas pessoas da freguesia. "Foi num dia em que morreram duas pessoas e depois morreu mais uma. Estava muito calor, o coveiro já não podia mais e não tínhamos pessoal". Garante que enterrou os conterrâneos e a seguir foi do cemitério transportar blocos para a construção de um muro na freguesia.

audio TSF\audio\2017\09\noticias\27\dora_pires_valega Reportagem de Dora Pires na freguesia da Válega

Não foi a primeira vez, conta que também enterrou uma vítima de tuberculose, aqui porque o coveiro de recusou a fazê-lo, com medo de apanhar a doença.

Na terra, não se estranha vê-lo no trator da junta para cá e para lá. Limpa valetas e até limpa casas de pessoas com mais problemas. Isso não o livra das habituais reclamações, "veja lá se chega é com o saneamento aqui", lança-lhe uma residente do portão de casa.

Válega, uma freguesia do concelho de Ovar, tem perto de 7 mil habitantes e 27 km2. A Junta de Freguesia tem meia dúzia de funcionários e um orçamento que ronda os 300 mil euros por ano. É preciso multiplicar esforços e trabalhos.

Jaime de Almeida diz que gosta de ajudar as pessoas, isso dá-lhe força. Isso e o apoio da família, "até sinto uma coisa esquisita no corpo quando falo nisso, quando os meus filhos me dizem que têm muito orgulho no pai que têm...". E cai uma lagriminha.

Esta postura não significa que o resultado de dia 1 de outubro esteja garantido. No anterior mandato perdeu a maioria por 3 votos e "com um aperto de mão, fiz uma geringonça com o PSD e o Bloco de Esquerda".

Nos últimos quatro anos esteve sozinho e só pode ir outra vez a presidente da junta. "Estou preparado para tudo. Importante é que se sair, seja como quando entrei, pela porta grande".