"Questão de vida ou morte" não convenceu justiça húngara. Rui Pinto vai ser extraditado
Apesar de ter pedido em tribunal para não ser extraditado, por uma questão de "vida ou de morte", a justiça decidiu extraditar Rui Pinto. O hacker português vai recorrer da decisão.
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A justiça húngara decidiu extraditar Rui Pinto para Portugal, depois de uma sessão em tribunal onde o português apresentou os seus argumentos para se manter no país. O hacker já contestou a extradição, com um recurso que tem "efeito suspensivo imediato" da decisão, e vai aguardar em território húngaro o desfecho deste apelo.
"No entender da defesa de Rui Pinto, um dos motivos porque não deve ser cumprido o MDE (Mandado de Detenção Europeu) é o facto de o mesmo ter sido emitido invocando um mandado de detenção nacional que não existia e que só veio a ser emitido um mês depois da detenção de Rui Pinto em Budapeste ao abrigo do MDE", lê-se na nota enviada à agência Lusa do advogado Francisco Teixeira da Mota, que representa o português.
A decisão do tribunal metropolitano de Budapeste surge no âmbito da investigação ao acesso aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento 'Doyen Sports'.
O português, colaborador do 'Football Leaks', pediu para não ser extraditado, alegando tratar-se de uma "questão de vida ou morte". A sessão, que começou às 09h15 (hora de Lisboa), serviu para as partes apresentarem ao tribunal os respetivos fundamentos.
Rui Pinto está em prisão domiciliária em Budapeste desde 18 de janeiro, na sequência de um mandado de detenção europeu emitido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
O hacker foi detido em 16 de janeiro, na sequência de um mandado de detenção europeu emitido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) por duas situações: acesso aos sistemas informáticos do Sporting Clube de Portugal (SCP) e do fundo de investimento 'Doyen Sports' e posterior divulgação de documentos confidenciais, como contratos de jogadores do SCP e do então treinador Jorge Jesus, assim como de contratos celebrados entre a 'Doyen' e vários clubes de futebol.
"Tudo o que fiz foi pelo interesse público"
"Eu vivo em Budapeste desde fevereiro de 2015. Os factos foram cometidos em território húngaro. Nunca recebi nenhum valor monetário pelo que fiz. Tudo o que fiz foi pelo interesse público, porque era necessário expor e levar as autoridades europeias a aperceberem-se da criminalidade à volta do futebol", afirmou Rui Pinto em tribunal, segundo a edição online do Correio da Manhã.
"Em Portugal há o [caso] e-toupeira, de certeza que já ouviu falar sobre isso. São vários os casos. Não posso nem é possível confiar nas autoridades portuguesas", sublinhou.
"As autoridades portuguesas nunca me tentaram contactar. Sabem a minha morada registada em Portugal, o meu número de telemóvel, mas nunca me enviaram uma carta. Peço à juíza que não me envie para Portugal. É uma questão de vida ou de morte", apelou Rui Pinto.
Em 13 de fevereiro deste ano, o tribunal húngaro rejeitou o recurso do Ministério Público daquele país para que Rui Pinto passasse a prisão preventiva, mantendo o português em prisão domiciliária, enquanto aguarda o desenrolar do processo de extradição para Portugal, ao qual se opôs.
Rui Pinto terá acedido, em setembro de 2015, ao sistema informático da "Doyen Sports Investements Limited", com sede em Malta, que celebra contratos com clubes de futebol e Sociedades Anónimas Desportivas (SAD).
O 'hacker' é também suspeito de aceder ao email de elementos do conselho de administração e do departamento jurídico do Sporting e, consequentemente, ao sistema informático da SAD 'leonina'.
Rui Pinto está indiciado de seis crimes: dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo, um de ofensa a pessoa coletiva e outro de extorsão na forma tentada.
(Notícia atualizada às 11h27 com notícia da extradição)