
Cartaz original do filme «Vertigo - A Mulher que Viveu Duas Vezes» (1958), de Alfred Hitchcock
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Quatro meses depois de ter sido eleito o melhor filme de sempre pela revista Sight and Sound, publicação do British Film Institute, «Vertigo - A Mulher que Viveu Duas Vezes», de Alfred Hitchcock, é reposto a partir desta quinta-feira nos cinemas, em formato digital.
A escolha de 846 distribuidores, críticos, académicos e escritores, destronou «Citizen Kane - O Mundo a seus Pés», de Orson Welles, que estava no topo desde 1962. Apenas 34 votos separaram o primeiro e o segundo lugar.
Numa lista que inclui 50 filmes, há obras de realizadores como Carl Dreyer, Stanley Kubrick, Yasujiro Ozu, Jean Renoir, F.W. Murnau, Akira Kurosawa, Fritz Lang, entre outros. Nenhum dos filmes eleitos foi rodado nos últimos dez anos.
Quanto a «Vertigo - A Mulher que Viveu Duas Vezes» é considerado por muitos a obra-prima de Alfred Hitchcock.
Rodado em 1958, em São Francisco, esta história de suspense, romance e mistério foi baseada no livro «D'Entre les Morts», de Pierre Boileau e Thomas Narcejac. Os autores escreveram a história para Hitchcock depois de descobrirem que o realizador tinha perdido os direitos de um outro livro que deu origem ao filme «As Diabólicas» (1955), de Henri-Georges Clouzot.
«Vertigo - A Mulher que Viveu Duas Vezes» é protagonizado por James Stewart e Kim Novak. O filme conta a história de John Ferguson (Stewart), um antigo inspetor da polícia que sofre de vertigens, que é contratado por um velho amigo para seguir a sua mulher Madeleine (Novak), uma mulher loira e bela que tem comportamentos estranhos.
Ferguson vigia a mulher, salva-a de morrer afogada e acaba por se apaixonar por ela, mas não consegue evitar o seu suicídio devido às vertigens. Uma paixão que se torna obsessiva quando encontra nas ruas Judy, uma sósia ruiva de Madeleine.
Um filme desesperadamente romântico na filmografia de Alfred Hitchcock que deu ao Cinema uma obra-prima mas também um efeito pioneiro nas técnicas de filmagem: o efeito Vertigo. O cineasta explicou como teve a ideia numa entrevista a François Truffaut, em 1962.
«Vinha-me sempre à memória uma noite em que estava terrivelmente embriagado e tinha a sensação de que tudo se afastava de mim, para muito longe. Tentei obter esse efeito em «Rebecca» (1940), mas em vão, porque havia este problema: mantendo-se fixo o ponto de vista, a perspetiva deve prolongar-se. Andei 15 anos a pensar no assunto. Quando voltei a pedir este efeito em «Vertigo», o assunto resolveu-se pela utilização simultânea da dolly e do zoom».
Para a história de suspense de «Vertigo - A Mulher Que Viveu Duas Vezes« contribuiu também a banda sonora de Bernard Hermann, na quarta colaboração com Hitchcock.
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Quanto aos protagonistas, James Stewart era já um velho conhecido do realizador, depois de ter feito «A Corda» (1948), «A Janela Indiscreta» (1954) e «O Homem Que Sabia Demais» (1956). Mas para o papel de Madeleine, Hitchcock queria Vera Miles que tinha protagonizado «O Falso Culpado» (1956). No entanto, a gravidez da atriz impediu-a de ficar com o papel. Algo que o cineasta sempre lamentou.
«Concebi «Vertigo» para Vera Miles, fizemos provas decisivas e todas as roupas foram preparadas para ela. (...) A menina Kim Novak chegou ao plateau com a cabeça cheia de ideias que, infelizmente, me era impossível partilhar. Fui procurar a menina Kim Novak ao seu camarim e expliquei-lhe quais os vestidos e penteados que deveria usar. Fiz-lhe compreender que a história do nosso filme me interessava muito mais do que o efeito final, visual, do ator no ecrã do cinema», disse a François Truffaut.
«Vertigo - A Mulher que Viveu Duas Vezes» é reposto esta quinta-feira em formato digital nos cinemas UCI Arrábida, no Porto, e UCI El Corte Inglês, em Lisboa. A partir do dia 3 de janeiro, o filme chega a outras cidades como Viseu, Aveiro, Tavira e Coimbra.