Anúncio de emprego a pedir candidatos que falem português questionado no Parlamento do Luxemburgo
Esta não é a primeira vez que o ADR, conhecido pelas posições nacionalistas, leva ao Parlamento questões relacionadas com a língua portuguesa. A secretária-geral do ADR é origem portuguesa e diz que é preciso separar a vida privada da pública, recusando qualquer conotação com a extrema-direita.
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Um anúncio a pedir candidatos que falem português foi questionado no Parlamento do Luxemburgo por um partido nacionalista, um caso "caricato" mas que pode aumentar as tensões entre portugueses e luxemburgueses, defendeu hoje um dirigente associativo.
«A questão linguística no Luxemburgo é uma questão incendiária que inflama os espíritos de toda a gente, mas questionar o Governo por uma associação pedir um funcionário que fale português é caricato. É uma questão de lana caprina, mas que pode criar mais clivagem entre portugueses e luxemburgueses», disse à Lusa José Coimbra de Matos, presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL).
O caso foi noticiado pelo jornal Contacto, que na última edição contava que o partido ADR questionou no Parlamento um anúncio publicado por uma associação de apoio a crianças, jovens e famílias, pedindo candidatos para uma vaga de educador que falassem português, além das três línguas oficiais do Luxemburgo.
Na questão parlamentar, o deputado Fernand Kartheiser, do ADR, perguntava ao ministro da Educação do Luxemburgo se «considerava normal» que uma associação subsidiada pelo Estado exigisse o conhecimento de uma língua que não faz parte dos idiomas oficiais do país, acusando-a de «favorecer» os falantes de língua portuguesa e de não contribuir para a integração dos estrangeiros.
Na resposta, o ministro defendeu que «neste caso concreto não se trata[va] de familiarizar as pessoas com as línguas oficiais do país ou de facilitar a sua integração, mas de as compreender e ajudar», uma posição aplaudida pelo presidente da CCPL.
«A língua deve ser um veículo de comunicação e não de exclusão. Por que carga de água é que haviam de atacar uma língua de comunicação falada por um quarto da população no Luxemburgo? Isto é criar um problema onde não existe, e tentar criar aqui uma convulsão social», defendeu José Coimbra de Matos.
O dirigente associativo criticou ainda a posição da secretária-geral do ADR, Liliana Miranda, de origem portuguesa, que em declarações ao jornal Contacto acusou os emigrantes portugueses de serem «privilegiados» pelo Governo, dando como exemplo a quantidade de documentos que são traduzidos para português pela administração pública luxemburguesa.
«Os outros partidos de extrema direita também têm estrangeiros, como a Frente Nacional, em França, mas Liliana Miranda chegou a fazer programas de televisão em português, pela mão da CCPL, e uma mudança tão radical é realmente cuspir na sopa», criticou o presidente da Confederação Portuguesa, referindo-se à participação da luso-luxemburguesa no programa "Entrada Livre", transmitido nos canais privados luxemburgueses Dok e TTV entre 2005 e 2007.
Em declarações à TSF, Liliana Miranda explica que o seu partido não aceita que um emprego pago pelo Estado exija o domínio de uma língua não oficial e que se se tratasse de um anúncio para uma empresa privada não viam qualquer problema. Também rejeita as criticas de que por ser portuguesa devia defender os emigrantes, dizendo que é preciso separar a vida privada da pública e garante que continua a defender a cultura portuguesa.
Liliana Miranda também quis reagir à classificação do ADR como partido de extrema-direita, feita pelo presidente da Confederação Portuguesa: «O ADR recusa-se a ser tratado de partido de extrema direita. A acusação feita por um dirigente associativo no artigo publicado no site da TSF é extremamente grave e não corresponde à realidade. O ADR chegou a colaborar ao nível europeu com o CDS-PP. Quando o CDS-PP decidiu ir para o PPE, o ADR tomou a decisão de fazer parte da Aliança Europeia dos Conservadores e Reformistas (AECR), que foi nomeadamente fundada pelo Partido Conservador britânico do Primeiro Ministro David Cameron. O ADR é um partido de centro direita que sempre tudo fez para melhorar a integração da comunidade portuguesa no Luxemburgo e que deseja apenas evitar qualquer tipo de "guetização". O ADR nunca pôs em causa a enorme contribuição dos portugueses ao desenvolvimento económico, social e cultural do Luxemburgo, mas acredita que uma boa integração passa também pela aprendizagem da língua luxemburguesa que permite uma melhor comunicação e um melhor entendimento entre todas as comunidades residentes no Luxemburgo».