Uma exposição inaugurada na quinta-feira em São Paulo mostra o trabalho de artistas brasileiros que criaram novas cores e formas baseadas na arte cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro. O projeto deu origem a 20 peças, limitadas e numeradas a 250 exemplares.
Corpo do artigo
O molde de um pássaro e de flores, tirados de diferentes azulejos, tornaram-se adorno para uma casa de pássaros feita pelo artista Laerte Ramos. As rãs bastante utilizadas por Bordalo Pinheiro receberam cor preta e branca sobre a silhueta da mão de Regina Silveira.
Já Marcos Chaves acrescentou um fone de cerâmica a um porta-cartas com o formato de uma orelha. A exposição conta com 20 peças de artistas, arquitetos e designers brasileiros que fizeram uma releitura do trabalho do português.
A exposição "Universo Bordallo - 20 BB Bordallianos do Brasil" foi idealizada pela fábrica Faianças Bordalo Pinheiro, durante o Ano de Portugal no Brasil, e promoveu uma vivência dos artistas por dez dias em Portugal, na fábrica nas Caldas da Rainha.
O resultado é uma mostra que mistura a marca do artista português, que pode ser identificada em cada peça, com o estilo de cada participante brasileiro.
«A proposta funcionou porque cada artista teve liberdade na sua obra. E o resultado é um intercâmbio entre o que há de melhor, de mais exuberante, das culturas brasileira e portuguesa», afirmou Pedro D'Orey, diretor da galeria da Firma Casa, que recebe a mostra.
O artista Laerte Ramos realçou que a sua obra "Furnarius Rufus", o nome científico do pássaro brasileiro conhecido como joão-de barro, é uma referência ao Brasil, com a ave, e a Portugal, com os adornos retirados de azulejos de Bordalo Pinheiro.
A obra em formato de casa de pássaro, segundo Ramos, é também uma referência à própria cerâmica, já que o joão-de-barro constrói sua casa usando palha e esterco seco com barro úmido, e o ninho tem uma forma semelhante à de um forno. «Foi novo para mim, e interessante, trabalhar com moldes antigos, de 1800», disse.
Regina Silveira afirmou ter-se impressionado com o trabalho dos artesãos da cerâmica, que produzem objetos «mágicos». A artista encontrou nas rãs de Bordalo Pinheiro uma ponte com a sua obra, já que estava a trabalhar com a figura de sapos sobre azulejo.
«Identifiquei-me com a ironia de Bordalo e com o sentido político que ele dava às peças», disse à agência Lusa.
Rafael Bordalo Pinheiro viveu no Brasil antes de criar a fábrica Faianças Bordallo Pinheiro. Uma das suas criações, a "Jarra de Bethoven", foi oferecida em 1899 ao então Presidente do Brasil Marechal Deodoro da Fonseca e hoje está exposta no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Os artistas participantes na mostra são Vik Muniz, Tunga, Regina Silveira, Maria Lynch, Adriana Barreto, Barrão, Caetano de Almeida, Efrain de Almeida, Estela Sokol, Erika Versutti, Fábio Carvalho, Frida Baranek, Laerte Ramos, Marcos Chaves, Saint Clair Cemin, Sérgio Romagnolo, Tiago Carneiro da Cunha e Tonico Auad, além das estilistas Isabela Capeto e Martha Medeiros.