Comité de peritos recomenda inscrição do fado para Património Cultural da Humanidade
O comité de peritos da UNESCO recomendou a inscrição do fado na Lista Representativa do Património Cultural da Humanidade, por considerar que é «um género de grande versatilidade poética e musical» com «um forte sentimento de pertença e ligação a Lisboa».
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Sem apresentar quaisquer restrições à aprovação da candidatura do Fado a Património Intangível da Humanidade, o comité referiu-a como uma das sete melhores a concurso, num documento divulgado esta semana.
O passo seguinte é agora a votação pelo Comité Inter-Governamental da Convenção da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que se reúne de 22 a 29 de Novembro em Bali, na Indonésia.
O relatório dos peritos é muito elogioso para a candidatura portuguesa, apontando-a como um exemplo de boas práticas a seguir por outros países na preparação de novas candidaturas.
«O fado é um género performativo que incorpora música e poesia com ampla prática em várias comunidades em Lisboa. [O fado] representa uma síntese multicultural portuguesa de danças cantadas afro-brasileiras, géneros tradicionais locais de canto e dança, tradições musicais rurais que foram trazidas para por sucessivas vagas de migrações internas e canções cosmopolitas no princípio do século XIX», lê-se no documento.
O relatório descreve a performance fadista, referencia a especificidade da guitarra portuguesa - «um alaúde em forma de pêra com 12 cordas de arame» - e afirma que o «acompanhamento instrumental se expandiu nas últimas décadas».
No texto é referida a prática fadista em casas de fado, mas também em associações recreativas, e a passagem de testemunho das gerações mais velhas para as mais novas.
A inscrição do fado na lista do Património Intangível da Humanidade pode, lê-se no documento, «contribuir para futura interações com outros géneros musicais, tanto nacionais como internacionais, já que a distinção "encoraja o diálogo intercultural».
Quanto às «medidas de salvaguarda, refletem a combinação de esforços e o compromisso das diferentes entidades, comunidades locais, do Museu do Fado, Ministério da Cultura, assim como outras autoridades locais e nacionais e visam uma salvaguarda de longa duração através dos programas escolares, investigação, publicações, espetáculos, seminários e 'workshops», lê-se no documento.
O comité de peritos salienta a importância no processo de candidatura com a participação e interesse demonstrado por fadistas, músicos, poetas, historiadores, colecionadores, pelo Museu do Fado e outras instituições.
O relatório sublinha também a expansão do catálogo do Museu do Fado, em Lisboa, em 2005, que passou a integrar um inventário geral de outras coleções tanto privadas como públicas de museus e arquivos.
A candidatura portuguesa integra um lote de 49 candidaturas de vários países, selecionadas para votação em Bali, na sexta reunião do Comité Inter-Governamental da Convenção da UNESCO.
Das 49 candidaturas, 17 mereceram recomendação positiva para integração na lista do Património Intangível da Humanidade, a 26 foi pedida informação suplementar por este organismo e cinco foram alvo de um parecer desfavorável.
As candidaturas que forem aprovadas em Bali integrarão a lista representativa do Património Cultural Intangível da Humanidade.
A candidatura foi apresentada pela Câmara Municipal de Lisboa através da EGEAC/Museu do Fado em junho de 2010.
Em declarações à TSF, o musicólogo Rui Vieira Nery mostrou-se muito «contente» e «animado», afirmando que este é um «sinal excelente» de que o fado será inscrito na Lista Representativa do Património Cultural da Humanidade.
«Até ao lavar dos cestos é vindima», mas a «comissão de peritos que avalia as candidaturas faz uma recomendação muito positiva» das mesmas e indica que a candidatura portuguesa, entre outras, é «exemplar», destacou.
Notícia actualizada às 16:12.