Chás, muitos chás, repouso debaixo das mantas e esperar que ela passasse. Eram alguns dos truques utilizados no passado para combater a gripe. Não havia comprimidos nem vacinas à mão, mas as maleitas curavam-se com mezinhas e muita paciência.
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Lurdes Machado tem 83 anos. Quando era nova as gripes e constipações curavam-se com um «cházinho de alecrim... era mau de tomar mas fazia bem e a salva também». Idalina Martins nasceu em Nunes, no concelho de Vinhais, e por lá também faziam chás para a gripe, «principalmente de orégãos».
Os chás, dizem, «eram mais para as mulheres»; para os homens uma boa mezinha com vinho acrescenta Lurdes Machado, com 83 anos e natural da aldeia de Maças no concelho de Bragança. «Uma canecada boa com vinho e mel, mexia-se bem mexidinho e bebiam aquilo à noite e quando era para ao outro dia estavam curados».
Em Vila Verde, no concelho de Vinhais, também se faziam mezinhas com álcool, mas com cuidados, diz Humberto Barreira do alto dos seus 89 anos. «Para tomarmos aguardente com açúcar tínhamos que a aquecer um bocadinho e depois chegávamos-lhe um fósforo para tirar aquele álcool, juntava-se aquilo tudo e a gente tomava tudo».
Em Ousilhão, também no concelho de Vinhais, Manuel Pires também tomava chás e até pensa que as mezinhas faziam melhor que os comprimidos. «Parece-me que até passavam melhor com aqueles chás do que agora com os medicamentos». O problema é que os comprimidos escasseavam e o dinheiro também, diz Humberto Barreira. «Não, naquela altura não havia comprimidos».
Lurdes Barreira acrescenta que ninguém tinha comprimidos e que passavam «invernos na cama deitados e ao lume embrulhados nos cobertores até que passava».
Mezinhas onde entravam o limão e mel, vapores de certas ervas e folhas e muito agasalho. Para a expetoração havia e há uma que é uma maravilha acrescenta Lurdes Machado: «Corta-se a cenoura às rodelinhas muito fininhas e põe-se-lhe mel e fica lá toda a noite a tomar o paladar da cenoura. Para o outro dia só se vê molhinho. Olhe é tão bom, tão docinho prá rouquidão e para abrandar o peito, muito bom». Se não resultar, a gripe lá passará, diz Lurdes Machado, «diz-se que tomando chá dura trinta dias e não tomando chá dura trinta e um, portanto só por um não valia a pena tomar o chá».
Mezinhas que curavam e que justificavam o provérbio: "avinha-te, abifa-te e abafa-te".