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Os investigadores da Escola Superior Agrária de Coimbra concluíram que o bode hermafrodita dava também leite como as cabras devido a problemas na atividade enzimática.
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«Este animal tinha tudo bem enquanto macho e dava leite de excelente qualidade», disse hoje à agência Lusa o professor Fernando Delgado, responsável da equipa que realizou a investigação.
Cruzado de "Saannen", uma raça oriunda dos Alpes suíços habitualmente generosa na produção de leite de boa qualidade, o chibo pertencia ao criador Amândio Inácio, da Cidreira, arredores de Coimbra, e foi vendido no início do ano passado à Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), que estava interessada em estudar o animal.
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Ao fim de vários meses, o bode acabou por morrer devido a uma infeção por um vírus, num momento em que os investigadores já tinham efetuado os diferentes exames laboratoriais que permitiram chegar a conclusões científicas.
«Excluiu-se a suspeita de desequilíbrio cromossómico e verificou-se uma significativa alteração dos perfis hormonais», segundo o estudo. Os testes confirmaram «a presença de níveis anormais da aromatase», uma enzima que «tem a capacidade de transformar a testosterona em estrogénio», disse Fernando Delgado.
Além dos testículos, como qualquer macho normal da sua espécie, o bode tinha ainda duas tetas, uma mais desenvolvida do que a outra e cheia de leite. O animal padecia de ginecomastia, designação científica do aumento dos tecidos mamários nos machos, uma anomalia que também acontece nos humanos.
A ginecomastia «pode ser explicada pela presença elevada da aromatase», sublinhou Fernando Delgado. Um bode que, afinal, «quanto mais macho, mais fêmea», sintetizou o veterinário e professor.
Constituída por Sandra Gamboa, Andreia Quaresma, Bruno Mamede, Pedro Pinto Bravo e Fernando Delgado, a equipa da ESAC realizou estudos hemáticos, citogenéticos, hormonais e espermáticos ao animal, contrapondo os resultados aos equivalentes obtidos numa cabra e num bode normais.
Enquanto pastou nos campos verdes do Mondego, com 104 ovelhas e 11 cabras, o chibo, pouco latino e mais alpino, foi motivo de galhofa e curiosidade das pessoas.
Um dia, o dono de um restaurante da Cidreira, que ainda não conhecia a história, perguntou ao criador: «Então, já tirou o leite ao carneiro?». Amândio Inácio respondeu: «Ao carneiro não tirei, mas já tirei ao bode».
Uma idosa intrometeu-se na conversa, manifestando-se indignada com o conteúdo supostamente malicioso das palavras. Em tempo de vacas magras, o bode dava mesmo leite de qualidade em abundância.