A pacatez da aldeia de Guadramil, em Bragança, foi interrompida pelo burburinho em torno das floreiras em vasos sanitários de um habitante que eram atração e se transformaram num caso de política.
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A casa de José Santiago da Silva, junto à estrada, no Parque Natural de Montesinho, é quase paragem obrigatória para quem passa, seja para tirar fotografias à decoração, em que sobressaem coloridas sanitas, seja para merendar ou descansar numa mesa e bancos que o habitante instalou em todo o espaço exterior com o apoio da Câmara de Bragança.
Da autarquia, que lhe cedeu os bancos, recebeu agora uma notificação para retirar da via pública todo o aparato, o que, para o autor, só pode ser uma ação "vingativa" do novo presidente da junta que, por sua vez, garante que não foi «tido nem achado» neste assunto.
«Toda a gente que passa aqui gaba isto. Aliás, quando é verão, muitas vezes param para tirar fotografias» garantiu à Lusa José, acrescentando que «mesmo o antigo presidente [da junta] dizia que [aquilo] estava bem».
A junta é outra desde as eleições autárquicas de há um ano, em que a aldeia passou a integrar a União de Freguesias Aveleda/Rio de Onor, com liderança socialista.
«Quando foi da campanha eleitoral, andei aqui a fazer campanha pelo PSD e a junta é do PS. Para mim só pode ser uma parte vingativa», supõe o visado, que atribuiu à freguesia a queixa, mas foi notificado pela Câmara liderada pelo PSD para retirar os enfeites.
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara, Hernâni Dias, afirmou que não há mais nada a acrescentar, além do que consta da notificação.
O presidente da freguesia, José Carlos Valente, desmentiu, em declarações à Lusa que tenha tido qualquer intervenção no caso e afirmou que só tomou conhecimento do mesmo «depois do alarido» gerado na aldeia.
Questionado sobre o que pensa do referido jardim, o autarca afirmou que até lhe «achava alguma piada» referindo-se ao cenário como «uma situação caricata, diferente», embora entenda que para a aldeia «não seria o melhor».
«As pessoas comentavam que aquilo não ficava lá muito bem», apontou, ressalvando que não quer dizer que ele próprio «seja contra» a referida decoração.
José Santiago da Silva garante que o terreno onde estão instaladas as floreiras e o restante equipamento lhe pertence. Ainda assim, recolheu para o terraço os vasos sanitários, que permanecem à vista, e mantém nas paredes da casa os autoclismos.
Queixa-se de, à conta das sanitas, estar a ser discriminado por ter sido notificado para retirar também outros vasos chamados de cortiços que existem por toda a aldeia. E pergunta porque é que na localidade vizinha de Rio de Onor há banheiras a servir de floreiras e ninguém as manda tirar.
Este habitante aponta também a ideia de outro vizinho que decidiu fazer um coberto para o carro com um toldo garrido de uma marca de cerveja.
Defende-se ainda, argumentando que a aldeia está menos cuidada do que o seu jardim, com «ruas que parecem lameiros, o largo com entulho, caminhos onde já não se passa com tanto monte, bocas-de-incêndio destruídas».
«Já foi comunicado à junta e não interessa», rematou.