
Reuters
Ao longo de meio século de carreira, o catalão Joan Manuel Serrat gravou cerca de 300 canções. Quantas cabem num concerto, é um dado para conferir esta noite no Coliseu de Lisboa.
Corpo do artigo
Para Joan Manuel Serrat, tudo começou a 18 de fevereiro de 1965, num programa "ao vivo" - "Radioescope" - da Rádio Barcelona. E foi exatamente em fevereiro passado, que o cantautor catalão iniciou a digressão "Antologia Desordenada", que também é nome de CD quadruplo onde estão reunidas 50 canções, desordenadas, uma por cada ano de carreira.
Cantando ora em catalão ora em castelhano, Joan Manuel Serrat foi um nome malquisto durante a ditadura fascista de Franco, conhecendo por várias vezes o exílio e, ao mesmo tempo, um cantor criticado pelos nacionalistas da Catalunha... por cantar em castelhano. Ou seja, "preso por ter cão e preso por não o ter". No entanto, é de referir - e tirem-se daqui as ilações que se quiser - Serrat, em 1968, recusou-se a cantar em castelhano a canção com que tinha sido apurado para o Festival Eurovisão da Canção, um facto que o fascismo de Madrid nunca lhe perdoou, tendo sido banido da televisão e das rádios espanholas, ao mesmo tempo que, durante largos anos, foi proibido de editar discos em Espanha.
Com o afastamento de Franco do poder em 1973, a ditadura espanhola começou a esboroar-se. De álbum em álbum - muitas vezes adquiríveis apenas num mercado fechado - Joan Manuel Serrat foi ganhando terreno, tendo finalmente editado de novo em Espanha em 1981 ("Em Transito") e em 1983 ("Cada Loco Com Su Tema"), não deixando também de ser verdade que a acutilância das palavras tinha sido substituída por um discurso mais politicamente correto mas onde, apesar de tudo, continuava a existir a força das palavras. Só que, de uma forma mais madura e intimista.
Antes de completar meio século de carreira (em 2015), Joan Manuel Serrat foi galardoado no passado ano com o Grammy Latino "Personalidade do Ano". No fundo, o reconhecimento pelo mundo da música de alguém que em tempos pouco favoráveis a "aventuras", ousou musicar e cantar poetas "malditos" como Antonio Machado ou o uruguaio Mario Benedetti. Das controvérsias, a história se encarregará de o absolver.