Tiago Baptista, especialista em cinema mudo da Cinemateca Portuguesa, lembrou que a produção cinematográfica portuguesa deu os primeiros passos ainda no séc. XIX.
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«Amor de Perdição», de George Pallu, fez sucesso nas salas de cinema portuguesas quando estreou em 1921, mas este não foi a primeira produção cinematográfica do país.
Ouvido pela TSF, Tiago Baptista, especialista em cinema mudo da Cinemateca Portuguesa, explicou que os primeiros passos da produção cinematográfica portuguesa foram dados no final do séc. XIX por Aurélio Paz dos Reis.
«Era fotógrafo, maçon e republicano que morava no Porto. Ele filmou as célebres saídas de fábrica e chegadas do comboio, repetindo um bocadinho os temas dos filmes dos irmãos Lumière», lembrou.
Apesar de alguns historiadores considerarem que nunca houve uma indústria cinematográfica em Portugal, outros lembram a produção da Invicta Filmes, um «projecto muito ambicioso que começou nos anos 10 no Porto».
Tiago Baptista recordou que este projecto envolveu a «construção de uma verdadeira cidade do cinema com estúdios, laboratório, oficinas de carpintaria para a construção de cenários».
Nessa altura, tal como na Europa, o cinema português era baseado no «documentário, como pensamos nele hoje, que surgiu nos anos 10, mas já nessa altura se começaram a fazer os primeiros filmes de ficção, com, argumento e actores».
«Foi através da adaptação de obras da literatura de cadsa país que o cinema foi ganhando estatuto de arte», adiantou Tiago Baptista.
Os primórdios do cinema português chegaram também a incluir um "Charlot no Jardim Zoológico", que agradou às plateias numa época de cinema mudo em que o som era conseguido de outras formas.
«Os filmes eram mudos, mas as sessões eram acompanhadas com música ao vivo. Cada cinema tinha a sua própria orquestra», explicou.
A consagração do cinema português acabaria por chegar em 1931, aquando da exibição de "Douro, Faina Fluvial", de Manoel de Oliveira, que, na estreia, teve a presença de críticos estrangeiros.
Entre eles estava o dramaturgo italiano Luigi Pirandello, que «perguntou mais tarde se era costume em Portugal aplaudir as obras primas com os pés».