O Estado vai fazer inventário das obras de arte da Fundação Ricardo Espírito Santo
O diretor-geral do Património Cultural, Nuno Vassallo e Silva, diz que a Fundação Ricardo Espírito Santo, como entidade privada, «tem de pensar nas soluções e nas parcerias que pode constituir» para o futuro.
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Numa entrevista à agência Lusa, o responsável máximo pela Direção-Geral do Património Cultura (DGPC), no cargo há dez meses, indicou que a principal preocupação «foi no âmbito da coleção», questionado sobre a situação de dificuldades financeiras da Fundação Ricardo Espírito Santo.
A DGPC anunciou, a 13 de novembro, a abertura de um processo de classificação da coleção da fundação, que abrange peças de mobiliário, livros, obras de artes plásticas e de artes decorativas, por considerá-la relevante para o património cultural português.
Sobre o ponto da situação do processo, Nuno Vassallo e Silva indicou à Lusa que os técnicos vão estudar o inventário, as peças, e selecionar as que devem ser classificadas.
«Terá de ser decidido se será toda [a coleção] classificada ou só uma parte», apontou.
«É uma preocupação, não tanto da dispersão do conjunto, mas como um sinal da importância nacional que aquele museu significa e da figura do colecionador», acrescentou o responsável, recordando que, em 2015, se assinalam os 60 anos da morte do colecionador Ricardo Ribeiro Espírito Santo Silva (1900-1955).
No despacho da abertura do processo de classificação, é assinalado que o colecionador se destacou, com prestígio internacional, como o maior e mais completo colecionador de arte portuguesa do século XX.
«A nossa preocupação direta foi no âmbito da coleção, mas é uma preocupação nacional o futuro daquela fundação, que é privada, e tem de pensar nas soluções e nas parcerias que pode constituir», defendeu o diretor-geral do Património Cultural.
As dificuldades financeiras da Fundação Ricardo Espírito Santo resultam sobretudo do corte do apoio do seu principal mecenas, o antigo Banco Espírito Santo.
No final de setembro, o conselho de curadores da fundação emitiu um comunicado anunciando que iria procurar medidas para garantir a sustentabilidade financeira da fundação, na sequência da crise que atingiu os mecenas principais, do Grupo Espírito Santo.
Na altura, um grupo de vinte ex-mestres das oficinas também divulgou um comunicado, pedindo a intervenção do Governo, da Câmara Municipal de Lisboa e de mecenas.
Recentemente, quando foi ouvido no parlamento, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, admitiu que a situação da FRESS era «preocupante» e adiantou que estava a tentar «encontrar caminhos» que salvaguardassem o património e o funcionamento da instituição.
Com a abertura do processo de classificação, a coleção fica sujeita a determinadas normas previstas na Lei do Património Cultural, que obrigam a comunicar às autoridades quaisquer situações de perigo, de alienação, de mudança de lugar dos bens ou de intervenções de restauro.
A Fundação Ricardo Espírito Santo foi criada em 1953, e ficou com sede no Palácio Azurara, em Lisboa, remodelado para a instalação de um museu-escola de artes decorativas portuguesas.
Atualmente, a fundação detém o Museu de Artes Decorativas e mais 18 oficinas de artes e ofícios tradicionais portugueses que ensinam intervenção especializada no património, nas vertentes de conservação e restauro.
Tutela ainda duas escolas para ensino das Artes: a Escola Superior de Artes Decorativas (ESAD) e o Instituto de Artes e Ofícios (IAO).