O livro da autoria do jornalista Pedro Caldeira Rodrigues percorre alguns dos momentos mais marcantes da história recente da Grécia. Um contributo para perceber o atual contexto político e económico do país, com especial enfoque na ascensão do Syriza.
Corpo do artigo
A catástrofe da Ásia menor que obrigou ao êxodo de milhares de gregos, a ditadura do general Metaxas, a invasão da Grécia na II Guerra Mundial e a resistência à ocupação alemã. Alguns momentos marcantes da história que segundo o autor contribuem de forma determinante para a memória coletiva do povo grego. Alguns dos traumas de uma história dramática marcada por uma constante ingerência estrangeira nos destinos do país.
"Neste último acordo que foi assinado no dia 13 de Julho e que vai implicar um novo resgate, tenho o caso de uma amiga, aliás relato isso no livro, que me escreveu um email e que me disse que chorou, chorou, chorou, quando soube que o Tsipras tinha assinado este acordo em Bruxelas porque este acordo significava uma capitulação, mais uma capitulação da Grécia, mais uma cedência da Grécia, às potências estrangeiras. Isto é uma coisa muito importante para os gregos".
A ascensão do Syriza
"A população grega encarava estes novos dirigentes políticos, todos eles muito jovens, como uma espécie de solução para um enfado que era desde 1974 [ter] sempre as mesmas caras e os mesmos erros, a mesma corrupção e o mesmo desespero". Um desejo de mudança precipitado por um contexto económico marcado pela austeridade. "Foi o facto da Grécia ter chegado a uma situação económica que só aconteceu em países em estado de guerra, portanto o Estado e a economia grega chegou a esse ponto com os problemas da austeridade e isso implicou também, com certeza, benefícios para o Syriza". Para o partido e para o seu principal dirigente Alexis Tsipras.
Considera Pedro Caldeira Rodrigues que o atual primeiro-ministro é hoje um homem diferente. "Está a tentar cada vez mais assumir uma imagem de estadista em detrimento de uma imagem de dirigente político". Um percurso bem diferente do seguido por Yanis Varoufakis, antigo ministro das finanças. "Eu creio que o problema do Varoufakis terá sido o excesso de protagonismo. O Tsipras não terá gostado propriamente desse excesso de protagonismo".
Problemas subsistem
Se a saída da cena política de Varoufakis resolveu no imediato o diferendo da Grécia com os credores internacionais, a verdade, diz o autor, é que o principal problema continua por resolver. "Se os dois anteriores programas de austeridade não resultaram, se não conseguiram resolver a questão do desemprego, se não conseguiram revitalizar a economia , se não conseguiram reduzir o défice, como é que este programa vai conseguir fazer isso?".
Junta-se outra dúvida: que futuro político para o Syriza? "Até que ponto é que o eleitorado grego continuará a acreditar no Syriza se este programa começar a ser aplicado e se a situação de depressão, de crise, de desespero prosseguir. E quem é que vai aproveitar politicamente esse desespero do eleitorado grego?"
O jornalista teme que o terceiro partido mais votado nas últimas eleições possa vir a beneficiar do pior cenário. "A Aurora Dourada pode-se tornar num perigo verdadeiramente real para a democracia grega. Isto é , o falhanço do Syriza poderá beneficiar sobretudo a extrema-direita na Grécia".