Até meados da década 70 do século passado, muitas crianças nasceram nas aldeias dos pequenos concelhos onde residiam. Os hospitais ficavam a dezenas de quilómetros e as estradas para lá chegar levavam largas horas a percorrer.
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Em Moimenta da Beira, no extremo nordeste da Beira - já no Távora, era Dina Alegria uma das mulheres que ajudavam nos partos.
Aos 90 anos Dina há muito que perdeu a conta a quantas crianças ajudou a nascer mas guarda vivas as memórias do oficio de parteira que preservou mães e crianças num concelho onde não havia hospital e o mais próximo fica a meia centena de quilómetros. Mas Dina Alegria nunca foi "nem quis ser parteira mas fazia o favor às mulheres" da aldeia. Dava-lhe "um jeito que sempre correu bem. De momento que as crianças venham bem guiadas eram precisas mãos. As que eu amparei, nunca tive nada a dizer".
O mundo tinha acabado a segunda grande guerra e na pequena aldeia do Castelo não havia médicos, enfermeiros ou parteiras. Era Dina quem exercia uma missão que "até podia ser demorada. Dependia da mãe e da força que faziam".
Depois do parto era preciso cuidar da criança e da mãe. "Voltava lá quase todos os dias, via se a mãe comia e lavava a criança e mudava-lhe a roupa". Uma semana depois acabavam as visitas que "as mães é que os criavam".
E naqueles tempos não se cobrava o favor. "Não íamos lá para ganhar o que fosse. Havia quem nos dissesse bem-haja e outras que nos chamavam para os batizados".