O projeto Reaction juntou, em Lisboa, nas últimas duas semanas, 250 jovens arquitetos e designers de todo o mundo para mudar o bairro da Graça, mas «o melhor está para vir» e pelas mãos de quem ali vive.
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«O balanço é positivo. Houve alguns percalços, mas foi uma confusão saudável», disse à Lusa o jovem arquiteto Cláudio Gonçalves, da direção da associação portuguesa MEDS Reaction, que trouxe a Lisboa este 'workshop' internacional, o MEDSlisbon2013.
Quem vive na Graça ou visita o bairro sente que «há uma boa energia e coisas a acontecer», referiu. Com o projeto a ganhar forma na rua - de onde partiu, porque todas as ações começaram com conversas com os moradores - «as pessoas perguntam, ficam entusiasmadas». Algumas participam, outras opinam.
«Ouvimos coisas do tipo: 'Vocês fizeram mais por este sítio em 15 dias do que os políticos em não sei quanto tempo'», contou.
Mas o melhor, garantiu, «é o que está para vir». O Reaction fez arrancar os projetos - 17 intervenções por todo o bairro -, mas há muitos que «vão ter repercussões e continuidade durante os próximos meses».
Por exemplo, o "Move, Cook and Talk", um projeto feito para a vila Rodrigues, cujo pátio estava subaproveitado e cujos moradores já não se juntam em churrascos e bailaricos, como há 30 anos, quando Maria Cândida Gonçalves, de 61 anos, se mudou para lá.
«Era como uma família. Juntávamo-nos à porta, fazíamos bailaricos, festejávamos o Santo António. Houve uma altura em que havia aqui fados. Entretanto, as pessoas começaram a falecer. Começaram a vir outras, de outros países, outras gentes», recordou.
Raquel Cabeças, de 25 anos, arquiteta estagiária e uma das tutoras deste projeto, explicou que o objetivo da ação era encontrar uma forma de dinamizar o pátio «favorecendo a relação entre os moradores, que, na maioria das vezes, estão fechados em casa e não saem para conviver com os vizinhos».
Construíram, em madeira, uma mesa e uma cozinha com rodas. Tudo portátil. Ao longo da mesa, no centro, há espaço para encaixar vasos com plantas de cheiro e ervas aromáticas. Em breve, haverá oito bancos disponíveis para os almoços e jantares no pátio, «de preferência, com comida tradicional dos países representados na vila», como a Índia, a Roménia ou o Paquistão.
O jantar inaugural acontece no sábado. Os voluntários do Reaction esperam que a sardinhada sirva de pretexto para outras festas e que mostre aos vizinhos como pode o projeto «mudar a vila».
Desta intervenção consta ainda uma instalação de luzes e flores, que liga as varandas do primeiro andar através de uma rede com vasos de barro pendurados ao contrário.
«Era preciso criar um ambiente diferente, mas com elementos reconhecíveis. Colocando o vaso ao contrário criamos essa diferença. E, estando ao contrário, as plantas tendem a crescer para o solo e para o lado, criando um teto verde, que vai gerar sombra», explicou Gil Cardoso, de 21 anos, também tutor do projeto.
Se a moradora Maria Cândida Gonçalves acredita que esta intervenção pode mudar o pátio, dar-lhe vida e juntar os vizinhos? «Talvez», disse, modesta no desejo: «Talvez as pessoas se entusiasmem com o projeto e comece a haver mais asseio, que isto estava muito porco».
O 'workshop' MEDSlisbon2013 termina no domingo. A associação planeia, entre o final deste ano e o início de 2014, realizar uma exposição sobre o projeto e a evolução destas intervenções, e publicar um livro sobre a iniciativa.