
Tesouros do Kremlin em exposição na Fundação Gulbenkian
Global Imagens/Jorge Carmona
A seleção de tesouros do Kremlin exibida a partir de hoje no Museu da Gulbenkian, em Lisboa, mostra a «estética do poder» dos czares russos entre os séculos XV e XVII, num gosto pela opulência e o aparato.
São 66 peças provenientes da coleção do Kremlin de Moscovo, incluindo joias, tecidos e armas, sobretudo do Irão, Turquia e Rússia, e vão estar expostas no Museu Calouste Gulbenkian até 18 de maio.
Numa visita guiada aos jornalistas realizada hoje à exposição "Os Czares e o Oriente - Ofertas da Turquia e do Irão no Kremlin de Moscovo", foi apresentada pelo diretor do Museu, João Castel-Branco, a diretora-geral do Museu do Kremlin, Elena Gagarina, e as três comissárias: Inna Vishnevskaya, Olga Melnikova e Elena Yablonskaya.
As peças, na sua maioria em ouro, prata, cravadas de joias ou cobertas por brocados, revelam a opulência e o luxo que os czares e altas individualidades da Igreja gostavam de mostrar ao povo, aliados e inimigos ao longo de três séculos.
Olga Melnikova, uma das comissárias, explicou à agência Lusa que as peças mostram a preferência dos czares, na época, pela arte oriental - da Turquia e do Irão - e uma relação entre a linguagem da arte e do poder.
«Também usavam peças dos países ocidentais, como a Holanda e a Alemanha, mas as preferidas eram as orientais pelo seu luxo visual, que gostavam de exibir nas paradas», apontou.
Paramentos, arreios, mantos para o trono, armas e objetos do uso quotidiano exibem o brilho do ouro e das pedras preciosas ao longo de toda a exposição, bem como o trabalho de grandes mestres artesãos orientais.
«As oficinas do Kremlin também criavam estas peças, muitas vezes recorrendo a materiais vindos da Turquia ou de outros países, como o Irão, cujas lâminas para espadas e punhais eram consideradas da melhor qualidade», apontou.
Todas estas peças - de valor incalculável, segundo o museu - foram preservadas ao longo dos séculos e permaneceram nas mãos do Estado, segundo a diretora-geral do Museu do Kremlin, Elena Gagarina, filha de Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar no espaço.
«Tentámos escolher os objetos mais belos e mais cheios de História para mostrar no Museu Gulbenkian. Por aquilo que tenho visto, em Portugal há muitos museus com peças sobretudo provenientes da China e do Japão. Só a Gulbenkian possui algumas peças russas, persas e turcas», comentou.
A diretora referiu ainda que os tesouros do Kremlin têm a particularidade de terem registos da sua proveniência e conceção, servindo como guia para a datação de peças semelhantes noutros países.
Os tesouros foram salvos da cobiça de vários invasores, nomeadamente do imperador francês Napoleão Bonaparte, que ao chegar a Moscovo, na campanha de 1812, descobriu que as peças tinham desaparecido sem rasto, escondidas num local que nunca conseguiu apurar.
É primeira vez que o acervo oriental desta coleção, constituída fundamentalmente pelas luxuosas ofertas aos czares provenientes do Irão safávida e da Turquia otomana dos séculos XVI e XVII, é mostrado na Europa, fora dos Museus do Kremlin.
Considerado único entre as coleções museológicas do mundo, este acervo é composto por objetos que durante muito tempo foram essenciais na vida quotidiana da corte russa, usados como adornos nos atos oficiais dos czares, nas campanhas militares e cerimónias religiosas nas igrejas do Kremlin.
Guardadas durante séculos nos museus do Kremlin de Moscovo, estas criações de mestres orientais representam um testemunho das relações económicas, políticas e diplomáticas entre a Rússia e os seus vizinhos.