Um vibrante diálogo entre o embaixador da Ucrânia em Lisboa e manifestantes da comunidade ucraniana marcou hoje um protesto contra a repressão das manifestações no país, que se prolongam há mais de uma semana.
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Cerca de uma centena de ucranianos residentes em Portugal marcaram presença no segundo protesto frente à embaixada, na Avenida das Descobertas, em solidariedade com os manifestantes que têm descido às ruas em diversas cidades da Ucrânia e para pedir a demissão do Presidente, Viktor Ianukovich.
O governo ucraniano anunciou em 21 de novembro a suspensão dos preparativos para a assinatura de um acordo de associação com a União Europeia (UE), primeiro passo para uma futura adesão, e o reforço das negociações com a Rússia para vir a integrar uma união aduaneira com outras ex-repúblicas soviéticas.
"Ianukovitch, a Ucrânia vai para a UE sem ti", "Somos Europeus! Ucrânia é Europa","Ianukovich vai para a Rússia", ou "Ucrânia sem Ianukovich" eram algumas das frases visíveis em cartazes, enquanto se agitavam bandeiras ucranianas e da UE, se exibiam fotos de manifestantes feridos pela polícia, e em uníssono todos entoavam o hino nacional do país eslavo no início do protesto.
«Na primeira manifestação aqui em Lisboa [na quinta-feira] pedimos a Ianukovich que assinasse o acordo com a UE, mas não assinou e respondeu ao povo ucraniano usando a violência», disse à Lusa Pavlo Sadokha, representante de uma associação de ucranianos em Portugal e um dos organizadores da iniciativa, enquanto se mantinha o intenso diálogo entre o embaixador e diversos manifestantes, sobretudo mulheres, na sua língua natal.
«Agora, em solidariedade com o povo ucraniano em todo o mundo, estamos a exigir que saia da presidência da Ucrânia e exigimos uma derrota do governo da Ucrânia», sublinhou.
Para o contestatário ucraniano, que afirmou falar em nome dos cerca de 42 mil ucranianos que vivem em Portugal, a resposta de Kiev aos protestos pode significar o fim da atual liderança.
«Ontem foi dito na praça da Independência (no centro da capital ucraniana, Kiev), quando se juntaram mais de 600.000 ucranianos, que esta é uma revolução pacífica. Houve tentativa de provocações, mas as pessoas conseguiram acalmar os mais agressivos e referiram que é uma revolução pacífica e democrática. Somos um país pacífico e democrático, mas sem este Presidente e este governo», acrescentou Sadokha.
Os representantes da comunidade ucraniana enviaram esta manhã uma petição à Assembleia da República, que solicita diversas sanções contra o Presidente Ianukovich e outros membros do governo «que têm ativos e imóveis na Europa e que viajam frequentemente», como frisou.
Rodeado de manifestantes com megafones, o embaixador Alexander Nikonenko tentava acalmar ânimos mais exaltados. «Os manifestantes transmitiram os seus desejos e exigências, que escutei», limitou-se a referir à Lusa.
Perante um discreto cordão policial, o protesto prosseguiu por cerca de hora e meia, com Sadokha a admitir que o seu país se mantém dividido face à aproximação à UE ou ao reforço das relações com a vizinha Rússia, sobretudo pela história comum.
«Na Ucrânia são quase dois povos, uns mais favoráveis em juntar-se à Rússia e dominam a cultura russa, e outro povo que domina a língua ucraniana. Esta diferença foi sempre usada pela Rússia e políticos como Ianukovich para aproveitar esta diferença e chegar ao poder», sustentou.
No entanto, Sadokha está convencido que a partir de agora os ucranianos jamais confiarão num Presidente «que faltou à palavra» após ter prometido uma aproximação ao clube europeu.
«A única exigência que agora existe nas praças da Ucrânia é a sua demissão», insistiu.