Há menos aviões no céu, mas ainda menos passageiros que queiram voar.
Os aeroportos portugueses perderam 32 milhões de passageiros desde o início do ano e os números, que já eram maus, agravaram-se no último mês.
Os dados são da Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) e referem-se aos meses de janeiro a outubro. Os sindicatos também fazem contas e dizem que a crise nos aeroportos portugueses já levou quase 4 mil pessoas a perderem o emprego.
Segundo a ANAC, nos primeiros 10 meses de 2020 voaram, em Portugal, 15,7 milhões de passageiros, muito longe dos 48 milhões de igual período de 2019.
Com o agravar da pandemia os números na aviação pioraram, de novo, em outubro, com quebras homólogas mais expressivas do que em agosto e setembro.
O número de voos caiu 55,2% na comparação com outubro de 2019, mas é na perda de passageiros que os números são ainda mais expressivos (-75,5%) o que revela que mais do que a oferta de voos aquilo que mais tem descido é a procura dos clientes.
O aeroporto de Lisboa é o que tem a maior queda (-78,5%), seguido de Faro (-73,7%) e do Porto (-72,4%). Nas ilhas, regiões menos afetadas pela Covid-19, o Funchal caiu 57,8% e Ponta Delgada 58,1%.
Entre as companhias aéreas com mais passageiros, a TAP lidera a perda de clientes com menos 80,6% em outubro, sendo que na Ryanair as perdas não são muito diferentes: -70,2%.
Quatro mil sem trabalho
O cenário anterior é classificado como negro por quem está no setor, nomeadamente pelo Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) - que representa o pessoal de terra.
As consequências, detalha o secretário-geral, José Sousa, são que já houve alguns despedimentos, nomeadamente de 80 seguranças de uma empresa privada que operava em Lisboa e no Funchal, mas a esmagadora maioria dos trabalhos perdidos, até ao final do ano, cerca de três mil, segundo o sindicato, aconteceram por não renovação de contratos a prazo.
"São números preocupantes, desastrosos que causam grande preocupação", desabafa José Sousa.
Os trabalhadores que estão menos mal são os que continuam em lay-off, desde abril, nomeadamente todos os funcionários da TAP, com perdas para o pessoal de terra, pelas contas do sindicato, de três salários completos em 2020.
Do sonho ao pesadelo
O presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) também fala em números "altamente gravosos".
Henrique Martins diz que os trabalhadores, mesmo aqueles que continuam em lay-off, estão numa "ansiedade brutal porque o setor teima em não conseguir 'descolar'", sem ver uma luz ao fundo do túnel.
Até agora, este sindicato que representa os tripulantes conta cerca de 700 trabalhadores da TAP sem contratos a prazo renovados e até ao final de março esse número irá, é quase certo, subir para perto de mil.
"São situações extremamente dramáticas. Há pessoas que tinham deixado outros empregos seguros, fixos, em que eram efetivos, para o sonho de trabalhar na aviação e de repente ficaram sem emprego quando a tendência, até aí, era de crescimento da companhia aérea...", conclui o representante do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil.