Sociedade

Autor de cartaz polémico nega "motivações racistas" e exige pedido de desculpas de Costa

Protesto de professores no Dia de Portugal José Coelho/Lusa

O professor que desenhou a caricatura a que o primeiro-ministro chamou "racista" justificou a imagem com influências da ilustração de livros infantojuvenis.

O autor dos cartazes onde o primeiro-ministro é representado com dois lápis a perfurar os olhos e focinho de porco no lugar do nariz, exibido num protesto de professores durante as comemorações de 10 de Junho em Peso da Régua, considera "um disparate" classificar a caricatura como "racista".

Em declarações à TSF, o professor de educação visual Pedro Brito considera a reação de António Costa exagerada. Inicialmente o primeiro-ministro afirmou que os protestos fazem "parte da liberdade e da democracia", mas acabou por se exaltar e acusar de "racismo" um dos manifestantes que empunhavam estes cartazes.

O também artista plástico "exige" a António Costa que "seja capaz de pedir desculpa a todos os professores" que empunharam o cartaz, assim como ao autor do mesmo.

"Eu compreendo as reações mais temperamentais do senhor primeiro-ministro, porque os tempos não estão fáceis. No entanto, recorrer a uma expressão como essas - fortíssima - indigna."

Pedro Brito assegura que a caricatura do cartaz "não tem quaisquer motivações racistas" e diz que António Costa "devia voltar à escola, porque provavelmente faz confusão com classicista, neorrealista, qualquer outra coisa mais, que não propriamente racista".

Sobre a grande diferença entre a caricatura que representa o primeiro-ministro e a que retrata o ministro da educação - ambos surgem de olhos trespassados por lápis, mas apenas António Costa surge com traços animais (um nariz de porco em vez de focinho) o professor justifica a opção estética com uma referência a personagens de contos de fadas.

"É um nariz alusivo a muitas personagens que vão, de alguma forma, tomando conta do imaginário do artista. Eu faço também alguns trabalhos de ilustração infantojuvenil, por exemplo" e pelos vistos, diz, António Costa "sentiu-se retratado nessas figuras míticas que aparecem em alguns desses livros."

O professor fala de uma reação "perfeitamente normal" face ao "desgaste" de António Costa, mas acusa-o de "tentar destruir" o protesto dos professores de forma "estratégica", até porque esta não foi a primeira vez que a imagem foi usada em manifestações de professores.

"Os professores já estão habituados ao seu comportamento, que procura desviar a verdadeira atenção dos problemas para acessórios e, neste momento, recorreu a uma forma fácil, indigna do senhor primeiro-ministro", condena.

"Eu acho que é menos do que uma sátira, é um insulto."

À TSF, o cartoonista António do Expressso, condena a imagem desenhada, defendendo que esta não transmite qualquer ideia e que têm apenas como objetivo insultar António Costa.

"Eu acho que é menos do que uma sátira, é um insulto (...) Na opinião do autor, o primeiro-ministro é um porco", afirmou.

Em relação à acusação de racismo feita por António Costa, o antigo bastonário da Ordem dos Advogados, Menezes Leitão, considera que não há crime, embora sejam "imagens violentas".

"Não estamos a ver que haja qualquer tipo de crime, condicionamento de órgãos institucionais, injúria (...) À partida não achamos que não estejam cobertas pela liberdade de expressão", considerou Menezes Leitão.

Notícia atualizada às 14h13

Rúben de Matos com Carolina Rico