Os apicultores denunciam um cenário de seca que, sem apoios do Governo, o ano passado levaram a uma perda de 12% das colmeias em Portugal.
Um grupo de apicultores exigiu esta quinta-feira apoios do Governo para o setor para que esta atividade e as abelhas não morram, num protesto realizado em Évora, junto ao edifício onde decorre a reunião do Conselho de Ministros.
Os apicultores, oriundos da Beira Baixa, Alentejo e Algarve, começaram a concentrar-se, perto de uma hora antes do início do Conselho de Ministro, atrás de um gradeamento, a algumas dezenas do Palácio D. Manuel, onde se realiza a reunião do Governo.
Enquanto chegavam governantes ao local, os manifestantes aumentavam os protestos e gritavam palavras de ordem, como "senhora ministra faça qualquer coisa pelas abelhas, elas estão a morrer" ou "este Governo mata as nossas abelhas".
Com apitos, buzinas e também fumigadores (habitualmente utilizados para lançar fumo e acalmar as abelhas), muitos empunhavam cartazes onde se podia ler "Sem abelhas não há alimentos" ou "A crise também nos afeta".
João Casaca, membro da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal, ilustra, em declarações à TSF, os números das perdas significativas dos apicultores portugueses, que denunciam um cenário de seca severa.
"O ano passado perderam-se 90 mil colmeias em Portugal e este ano vamos pelo mesmo caminho. O ano passado também foi um ano de seca muito grave no país todo", afirma o apicultor, que explica que isto corresponde a 12% das colmeias que existem em Portugal e, sendo que cada uma delas tem perto de "cem mil abelhas", isto significa que "milhões de insetos polinizadores que fazem falta ao ambiente e à agricultura" acabaram por morrer.
José Abel, apicultor que representa as novas gerações do setor, diz que também está muito preocupado com a situação atual e lamenta que não existam apoios por parte do Governo.
"A gente não tem ajudas de nada e cada vez mais as secas são piores e temos muita dificuldade", denuncia, lembrando que o setor da apicultura tem lutado para se fazer ouvir já por diversas vezes, sendo que em Évora esta é, pelo menos, a segunda iniciativa deste género.
"É para eles [Governo] terem noção de que sem apicultura, não há agricultura. E ainda não lhes entrou na cabeça", conta à TSF.
Manuel Vicente, com quase 80 anos e apicultor desde os 12, sublinha que este ano não tira "uma terça parte do mel que havia de tirar". Com quase "200 caixas", o homem afirma que se conseguir tirar "entre 600 a 700 quilos de mel, é muito bom".
O apicultor esclarece ainda que anualmente costumava produzir entre 1500 a dois mil quilos de mel, sendo esta uma perda muito significativa.
"Um dos graves problemas é que não temos apoios a nível nacional. A ministra da Agricultura não quer saber de nós", lamenta José Lopes Afonso, apicultor na zona de Castelo Branco, em declarações à agência Lusa.
Assinalando que o setor enfrenta quebras de produção de "70% ou 80%", devido à seca, este apicultor salienta que "os espanhóis têm um subsídio chorudo" por colónia e que os portugueses "não têm direito a nada".
"E estamos todos na Europa", sublinha José Lopes Afonso, frisando que, perante as dificuldades do setor, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, "vira as costas e não quer saber de nada".
"Qualquer dia não há apicultura em Portugal. As abelhas estão a morrer e nós começamos a esmorecer", acrescentou.
Segundo Filipa Almeida, também apicultora de Castelo Branco, os políticos "tiraram todos os apoios" em Portugal, que "já era um dos países que tinha menos apoio", e passou a ser "o único país da União Europeia que não tem qualquer apoio direto à produção".
"Pedimos aos decisores políticos que olhem para a apicultura como uma atividade que tem um valor social, económico e ambiental e que importa valorizar porque, no fundo, tudo o que nos dão devolvemos a triplicar", vincou.
Considerando que "há uma profunda desconsideração pelo setor", Filipa Almeida alertou que "há apicultores a abandonar a atividade" e que "isso vai implicar, a curto médio prazo, a morte de imensas colmeias".
"Indiretamente, vai influenciar o valor dos produtos nos consumidores finais, não só o mel, mas também, como não vai haver polinização, há uma quebra de produção geral dos alimentos e quem vai pagar a fatura é o consumidor final", advertiu.
Ao lado dos apicultores estavam também em protesto três professores, um deles o autor da caricatura polémica em que o primeiro-ministro aparece com nariz de porco, Pedro Brito, envergando uma camisola com a imagem.
À entrada para a reunião, Tomás Lavouras, da JSD de Évora, entregou à ministra da Coesão Territorial uma carta em que alerta para problemas que estão a provocar a saída dos jovens qualificados do interior para o litoral e estrangeiro.