Futuro

A Inteligência Artificial tem lugar no combate às doenças mentais? Psiquiatras procuram resposta

Joana Raposo Gomes realça que "existe uma democratização na acessibilidade a estas novas tecnologias" AFP (arquivo)

A psiquiatra Joana Raposo Gomes defende que é possível evitar riscos de desumanização dos cuidados de saúde mental com recurso às novas tecnologias, apelando aos profissionais desta área para "trabalhem em conjunto" com os programadores.

Pode a Inteligência Artificial ter um papel no diagnóstico e tratamento de problemas de saúde mental? A busca pela resposta a esta questão leva um conjunto de psiquiatras a reunirem-se esta sexta-feira e sábado, em Bragança.

O encontro é da Associação Psiquiátrica Alentejana, que escolheu como tema a virtualidade da realidade, levando a uma reunião de dois dias na cidade transmontana.

Joana Raposo Gomes, psiquiatra e uma das organizadoras, considera que a psiquiatria atual não pode ignorar o contributo da tecnologia para o bem-estar dos doentes.

"Na nossa realidade convidamos a virtualidade a entrar. Nós já temos o que é a realidade ou o que tem vindo a ser a nossa realidade de intervenção na doença mental, na doença psiquiátrica, já temos essa realidade, mas também já temos a realidade das tecnologias dentro da saúde mental e dentro das áreas do diagnóstico, do tratamento, da prevenção de recaída", explica, em declarações à TSF, sublinhando que a tecnologia já faz parte da "nova realidade".

"Já trazemos para aquela realidade que conhecíamos antigamente esta que é agora a nossa nova realidade que traz então a virtualidade", insiste.

A psiquiatra diz que, em Portugal, o uso da tecnologia nesta área já não é propriamente desconhecido pelos profissionais de saúde mental, assim como para os doentes. São dois mundos que cada vez se aproximam mais.

"Uma das que mais ultimamente se tem falado e que inundou o nosso dia a dia é o ChatGPT. As pessoas começaram a utilizá-lo, começaram a falar com o ChatGPT, começaram a perceber que ele, como um chatbot, dá conselhos, simula o comportamento de um humano e as pessoas começaram a utilizá-lo até em prol de autoconhecimento e de procura de esclarecimentos sobre aquilo que estariam a sentir, sobre o que estariam a passar e é algo que é muito fácil de aceder", afirma.

Joana Raposo Gomes realça que "existe uma democratização na acessibilidade a estas novas tecnologias" e defende que é possível evitar algum risco de desumanização dos cuidados em saúde mental precisamente com recurso a estes aparelhos.

"Por mais que estes algoritmos de inteligência artificial simulem o comportamento humano, também estão à mercê da vontade, em princípio, de quem os programa e com isto podem surgir questões mais complexas", diz, acrescentando que, "por mais que a inteligência artificial queira, carece de criatividade e da empatia que um terapeuta terá junto dos seus doentes".

"É fundamental que, a par deste desenvolvimento que é exponencial neste momento, os profissionais de saúde mental - nomeadamente psiquiatras, psicólogos - trabalhem em conjunto com estes programadores, engenheiros e designers de jogo para que surjam ferramentas com uma aplicabilidade mais segura", sublinha.

Guilhermina Sousa com Cláudia Alves Mendes