Sociedade

Para "lembrar velhos tempos", tradicional pêro de Monchique é recuperado e já dá os primeiros frutos

Maria Augusta Casaca/TSF

Nos socalcos do campo experimental estão plantadas cerca de 200 árvores, 32 espécies de pêro de Monchique

É perto do Convento de Nossa Senhora do Desterro, num terreno pertencente à autarquia, que a Câmara Municipal de Monchique e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Algarve (CCDRA) estão a tentar reintroduzir uma espécie característica da zona, mas que entrou em desuso. De tal forma que hoje já se torna difícil alguém afirmar com exatidão qual o verdadeiro "pêro" (maçã) daquela zona.

No entanto, não há algarvio que não conheça a expressão "ficar como um pêro de Monchique", que é como quem diz, ficar corado até à raiz dos cabelos. "Por vezes era por causa do medronho", diz a rir Rui Nobre. Este habitante lembra que ali é também o concelho onde se produz boa aguardente de medronho. Mas até aí há dúvidas, porque o "pêro" daquela zona tanto pode ser vermelho como amarelo ou verde.

A casa de Rui situa-se perto do local onde estão plantadas as árvores. "Têm aqui diversas variedades e é bom que sejam aproveitadas para lembrar os velhos tempos", sugere. "A fruta de Monchique era belíssima em sabor, em qualidade", continua.

No entanto, os habitantes mais antigos dividem-se quando são questionados em relação às características da fruta. Rui Mateus, engenheiro agrónomo da Câmara Municipal de Monchique, explica que, aos poucos, a tradição de preservar a espécie foi-se perdendo e nesta altura já nem se conhece com precisão quais as verdadeiras variedades que aqui se produziam.

"Fiz um inquérito à população, trouxe os frutos para verem e os resultados foram muito diversos. Só três pessoas é que disseram que determinado fruto era pêro de Monchique", conta.

Em colaboração com o campo experimental de Tavira da ex-Direção Regional de Agricultura, onde existe uma enorme coleção de fruteiras, e também com o apoio da população, tenta-se agora que estas árvores renasçam naquele concelho, tentando conservar o material vegetal genético. Pensa-se que o "Zé Luis" e a "Maria Gomes", por exemplo, são alguns dos nomes das espécies locais. Na última primavera já deram os primeiros frutos. Embora se desconfie que algumas árvores plantadas não são o original pêro, outras acredita-se que serão exclusivas desta zona, onde as horas de frio e a humidade da serra são essenciais para o seu crescimento.

Com este estudo, a câmara municipal pretende não só preservar a árvore, mas também que a população local recomece a plantar o tradicional pêro, para que o cheiro e o sabor tão característicos do fruto perdurem no tempo.

Como complemento, também com a ajuda da população, a autarquia quer igualmente anexar outras variedades de fruteiras tradicionais locais antigas.

Maria Augusta Casaca