"Recuperar o acreditar": Renature Monchique já plantou 500 mil árvores mais resistentes ao fogo

"Isto é um sobreiro, aquilo é um carvalho de Monchique e além um castanheiro." O arquiteto paisagista Miguel Branquinho aponta as diferentes árvores existentes numa zona de plantação, na serra de Monchique, já perto do Alto da Fóia. É um dos locais onde está a ser implantado o projeto Renature Monchique, que avançou depois dos incêndios de 2018.

O fogo, que começou no dia 3 de agosto desse ano, e só foi dominado uma semana depois, alastrou aos concelhos de Silves e Portimão e devastou perto de 27 mil hectares de floresta. Foi considerado o maior incêndio da Europa nesse ano, segundo dados do Sistema Europeu de Informação e Incêndios florestais. Era necessário, por isso, restaurar a mancha florestal e plantar espécies mais adaptadas às alterações climáticas.

"Estamos a tentar restabelecer habitats importantes para a região, como o carvalho de Monchique, que está em vias de extinção. Já só há 300 indivíduos maduros em Portugal", explica o arquiteto do GEOTA.

"Nós aqui já plantámos mais de mil carvalhos de Monchique", afirma satisfeito. "Se isto funcionar, vai ser muito bom para a espécie", acredita.

A iniciativa da organização ambientalista é realizada em parceria com a Ryanair - que a financia a 100% anualmente com 400 mil euros -, como forma de compensar as toneladas de carbono emitidas para a atmosfera pela companhia aérea, ajudando na reposição do ecossistema. No projeto estão envolvidos também o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e o Município de Monchique.

Em sete anos, desde 2019, em 60 terrenos de vários proprietários, numa área de mais de mil hectares, já foram colocadas mais de 500 mil árvores: carvalhos, sobreiros, medronheiros e castanheiros.

David é um dos trabalhadores que em outubro começa a pôr as mãos no terreno. "O trabalho desta equipa é preparar e manter os terrenos limpos para que as árvores cresçam melhor", explica. Os trabalhadores sabem que esta é uma tarefa para dar frutos a longo prazo. Para que um sobreiro cresça e até que lhe possa ser retirada a cortiça, demora cerca de 30 anos. "É uma vida", diz David

Neste projeto, é assinado um protocolo com os proprietários dos terrenos onde estão a ser feitas as plantações, em que estes se comprometem a manter durante 30 anos as árvores. "Para que daqui a dez anos não retirem isto tudo e não plantem eucaliptos ou árvores de fruto", sublinha Miguel. O responsável pelo projeto Renature Monchique acredita que, reflorestando aquela serra, estão a ajudar a mão de obra local e os proprietários que, depois de vários incêndios, já tinham abandonado a terra.

"Muitas são pessoas idosas, sem meios (... ) e nós recuperamos o acreditar das pessoas nas propriedades", assegura.