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COP30: Povo Munduruku marcha contra exploração de petróleo na Amazónia

Sebastião Moreira/EPA

Uma marcha incluída no arranque da Cúpula dos Povos, que começou ontem com a chegada da flotilha de 200 embarcações ao porto de Belém do Pará e segue hoje e amanhã com sessões plenárias onde 3 mil líderes de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, vão redigir o Tratado dos Povos a entregar aos líderes da COP30 no domingo

Sexta-feira ao fim da tarde, os cerca de três mil líderes dos povos indígenas querem ter pronto o Tratado dos Povos para traduzir para, pelo menos, os 62 países que têm presentes cerca de 1100 representantes, a maioria de ONG, em solidariedade com quem vive na Amazónia.

Em paralelo aos trabalhos, acontecem várias iniciativas e depois da descida do rio Amazonas, por parte de 200 embarcações, vindas dos mais diversos recantos ao longo do serpenteado do rio, esta quinta-feira foi a vez da Marcha do povo Munduruku, que juntou centenas de pessoas no percurso desde o portão principal da Universidade Federal do Pará até à zona ribeirinha da cidade.

À frente a encabeçar a manifestação que juntou o que a organização chama caciques, mulheres, guerreiros e guerreiras, esteve a líder indígena Ediene Kirixi que denunciou ameaças aos territórios da Amazónia, como a exploração petrolífera, iniciada pela Petrobras, 15 dias antes da COP30, na foz do rio Amazonas e em Matogrosso, bem como, contra os créditos de carbono, por considerar que enquanto os povos indígenas se aplicam na luta pela preservação da natureza, outras nações pagam créditos de carbono, para continuar a poluir o planeta.

A líder indígena pede autonomia e ação pela preservação da floresta e da vida dos seus habitantes. "O povo Munduruku, do Alto Tapajós, do sudeste do Pará o povo que está aqui trazendo as suas reivindicações de direitos para o espaço, para voz sobre os impactos climáticos, até das doenças, que o mundo precisa conhecer. É a realidade. Esse povo pacifico manifesta-se trazendo as suas reivindicações para a COP 30 e estamos contra a Rede Mais, que é o crédito de carbono, que é os que os líderes desta COP 30 têm interesse em negociar para a nossa floresta, o nosso território. Aqui o povo defende o direito de decidir sobre a Amazónia, para que a nossa floresta se mantenha viva e possa sustentar a vida futuramente."

Ediene Kirixi só não gostou do aparato de segurança que acompanhou os manifestantes e criticou o governo federal do estado do Pará, da qual Belém é a capital. "O povo exige respeito ao Estado do Pará, principalmente ao Estado do Pará, que está fazendo barramento à entrada dessa manifestação pacífica do povo Munduruku. Apenas estamos reivindicando o nosso direito para que o mundo conheça a nossa realidade, o sofrimento, o impacto climático amazónico, no rio, no resto da natureza e que os Estados internacionais têm interesse e até na negociação da vida dos nossos filhos."

A líder dos Munduruku sublinha que é um grito de protesto em nome das gerações futuras do planeta, em especial dos que habitam no coração da floresta. "Nós não aceitamos a negociação da nossa futura geração. A gente não negocia esse nosso direito. A gente não negocia o direito da Amazónia, do nosso território. Estamos aqui defendendo a nossa floresta, os nossos rios e a nossa futura geração. É para as crianças estarem sempre vivendo no território limpo, território sem discriminação, território sem doenças, sem invasão que fazemos esta ação."

Os povos indígenas ao lado de outros ativistas promete invadir as ruas da cidade, no próximo sábado na Marcha pelo Clima e domingo, os tais cerca de três mil líderes indígenas provenientes de nove nações, reunidos na Cúpula dos Povos, a cimeira indígena que decorre em paralelo à cimeira principal da COP30, prometem entregar um "Tratado dos Povos" aos líderes da trigésima conferência do clima das Nações Unidas, a redigir nas sessões plenárias de quinta e sexta-feira.

Ana Maria Ramos