O candidato presidencial refere que a divulgação das escutas "põe em causa a credibilidade na aplicação da justiça"
O candidato presidencial António Filipe defendeu esta quinta-feira que deve haver esclarecimentos com rapidez, questionado sobre a divulgação de escutas telefónicas feitas no âmbito da Operação Influencer e sobre a demora na conclusão desta investigação.
À saída do Tribunal Constitucional, onde hoje formalizou a sua candidatura às presidenciais de 18 de janeiro, António Filipe foi questionado pelos jornalistas sobre a demora na conclusão deste caso, a divulgação de escutas e se pensa que isso afeta a credibilidade das instituições.
"Eu acho que isso tem de ser obviamente esclarecido. Obviamente que afeta, obviamente que põe em causa a credibilidade na aplicação da justiça. E, portanto, convém que essas questões sejam rapidamente esclarecidas, para que os cidadãos sintam confiança nas instituições", respondeu o candidato presidencial apoiado pelo PCP e pelo PEV.
Interrogado sobre a necessidade de uma reforma da justiça, António Filipe considerou que "o maior problema da justiça em Portugal é a falta de acesso à justiça por parte de muitos cidadãos, aqueles que não têm recursos económicos para recorrer à justiça".
"Isso significa que tem de haver outros mecanismos de apoio judiciário, não aqueles que existem hoje, que são manifestamente insuficientes. É preciso que haja profissionais da justiça em número suficiente, também há uma grande dificuldade a nível de funcionários e mesmo a nível de magistrados, e que haja um investimento na justiça", acrescentou.
O antigo deputado, jurista, referiu que já houve "imensos, pactos, imensos projetos" de reforma do setor da justiça e realçou que "não é o Presidente da República o legislador" capaz de pôr em prática alterações nesta matéria.
"O problema não é só falta de iniciativa, é falta de vontade política da maioria parlamentar que faça com que essas mudanças vão para a frente em termos de alterações legislativas", apontou.
Segundo António Filipe, é evidente que "há mudanças que têm de ser feitas", a nível legislativo, por exemplo, "medidas que impeçam as manobras dilatórias, que os processos se vão arrastando por incidentes sobre incidentes".
"Depois, é preciso também que haja meios na justiça, ou seja, que as investigações não se arrastem por falta de recursos para a investigação, quer recursos humanos, quer materiais. E também tem de haver, por parte dos próprios agentes de justiça, uma intervenção que credibilize a sua própria intervenção", concluiu.
A revista Sábado divulgou na quarta-feira um resumo de transcrições de escutas que envolvem o anterior primeiro-ministro António Costa no âmbito da Operação Influencer, investigação do Ministério Público sobre a instalação de um centro de dados em Sines, que levou à sua demissão da chefia do Governo, em novembro de 2023.