Política

47 personalidades pedem «compromisso nacional»

Caneta Direitos Reservados

«Um compromisso nacional» a dois tempos é o que pedem, em carta aberta, 47 personalidades portuguesas, entre as quais todos os antigos Presidentes da República.

Jorge Sampaio, Belmiro de Azevedo, Manoel de Oliveira e Júlio Pomar foram apenas algumas das pessoas a assinar a carta, publicada na integra na edição do jornal Expresso deste sábado.

Estas personalidades pedem, em primeiro lugar, entendimento entre os principais partidos, o Governo e o Presidente da República, garantindo-se assim a execução de um plano imediato para assegurar a «credibilidade externa» do país, evitando ainda «perturbações adicionais» na campanha eleitoral.

Em segundo lugar pedem o apoio de Cavaco Silva à posse de um governo de «maioria inequívoca», estando os partidos disponíveis para entendimentos pós-eleitorais que permitam a construção de um consenso mínimo de resposta à crise.

Uma solução governativa estatal é a primeira premissa para que os portugueses encontrem razões para os sacrifícios presentes e futuros, defendem estas 47 personalidades, mostrando-se preocupadas com a situação que o país atravessa.

Carta aberta publicada no Expresso:

"1

Portugal está a viver uma das mais sérias crises da sua história recente. Essa crise tem uma dimensão financeira e económica, que se reflete no défice orçamental, no desequilíbrio externo, no elevado grau de endividamento público e privado e nos baixos índices de competitividade e crescimento da economia, com grave impacto no desemprego, em especial nas gerações mais novas; mas tem igualmente uma dimensão política e social grave, que se exprime numa crescente dificuldade no funcionamento do Estado e do sistema de representação política e em preocupantes sinais de enfraquecimento da coesão da sociedade e das suas expectativas.

2

A crise financeira e económica mundial que se iniciou em 2007,com origem nos Estados Unidos, gerou em 2009 a maior recessão global dos últimos 80 anos e transformou-se, mais tarde, na chamada crise da dívida soberana, que abriu no seio da União Europeia um importante processo de ajustamento político e institucional, afetando de modo especialmente negativo alguns dos Estados membros mais vulneráveis, entre os quais, agora, Portugal.

3

Nesta situação de grande dificuldade, em que persistentes problemas internos foram seriamente agravados por uma conjuntura internacional excecionalmente crítica, os signatários sentem-se no dever de exprimir a sua opinião sobre algumas das condições que consideram indispensáveis para ultrapassar a crise, num momento em que a dificuldade de diálogo entre os dirigentes políticos nacionais e a crescente crispação do debate público, nas vésperas de uma campanha eleitoral, ameaçam minar perigosamente a definição de soluções consistentes para os problemas nacionais.

4

Essas condições envolvem dois compromissos fundamentais:

a) em primeiro lugar, um compromisso entre o Presidente da República, o Governo e os principais partidos, para garantir a capacidade de execução de um plano de ação imediato, que permita assegurar a credibilidade externa e o regular financiamento da economia, evitando perturbações adicionais numa campanha eleitoral que deve contribuir para uma escolha serena, livre e informada; este compromisso imediato deve permitir que o Governo possa assumir plenamente as suas responsabilidades para assegurar o bem público e assumir inadiáveis compromissos externos em nome do Estado.

b) em segundo lugar, um compromisso entre os principais partidos, com o apoio do Presidente da República, no sentido de assegurar que o próximo Governo será suportado por uma maioria inequívoca, indispensável na construção do consenso mínimo para responder à crise sem a perturbação e incerteza de um processo de negociação permanente, como tem acontecido no passado recente; numa perspetiva de curto prazo, esse consenso mínimo deverá formar-se sobre o processo de consolidação orçamental e a trajetória de ajustamento para os próximos três anos prevista na última versão do Programa de Estabilidade e Crescimento; e, numa perspetiva de médio/longo prazo, sobre as seguintes grandes questões nacionais, relacionadas com a adaptação estrutural exigida à economia e à sociedade: a governabilidade, o controlo da dívida externa, a criação de emprego, a melhor distribuição da riqueza, as orientações fundamentais do investimento público, a configuração e sustentabilidade do Estado Social e a organização dos sistemas de Justiça, Educação e Saúde.

5

As próximas eleições gerais exigem um clima de tranquilidade e um nível de informação objetiva sobre a realidade nacional que não estão neste momento asseguradas. A afirmação destes compromissos, a partir de um esforço conjunto dos principais responsáveis políticos, ajudará seguramente a construir uma solução governativa estável, que constitui a primeira premissa para que os Portugueses possam encontrar uma razão de ser nos sacrifícios presentes e encarar com esperança o próximo futuro".

Adriano Moreira

Alexandre Soares dos Santos

Álvaro Siza Vieira

António Barreto

António Gomes de Pinho

António Lobo Antunes

António Lobo Xavier

António Nóvoa

António Ramalho Eanes

António Rendas

António Vitorino

Artur Santos Silva

Belmiro de Azevedo

Boaventura Sousa Santos

Daniel Proença de Carvalho

Diogo Freitas do Amaral

Eduardo Lourenço

Eduardo Souto Moura

Emílio Rui Vilar

Fernando Seabra Santos

Francisco Pinto Balsemão

Isabel Rodrigues Lopes

João Gabriel Silva

João Lobo Antunes

Joaquim Gomes Canotilho

Jorge Sampaio

José Carlos Marques dos Santos

José Carlos Vasconcelos

José Pacheco Pereira

José Pena do Amaral

José Silva Lopes

Júlio Pomar

Júlio Resende

Leonor Beleza

Luís Portel

Manoel de Oliveira

Manuel Braga da Cruz

D. Manuel Clemente

Manuel Sobrinho Simões

Maria de Sousa

Maria Fernanda Mota Pinto

Maria João Rodrigues

Mário Soares

Miguel Veiga

Rui Alarcão

Teresa de Sousa