A Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), a Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal e a Confederação do Comércio de Portugal consideram decepcionante a declaração do ministro das Finanças, lamentando que Vítor Gaspar nada tenha mencionado sobre o corte na despesa pública.
A marcar a curta declaração do ministro das Finanças, esta sexta-feira, ficou o aumento do IVA na electricidade e gás natural, da taxa reduzida para a taxa normal, já em Outubro, e a ausência de medidas para o corte na despesa do Estado.
Em reacção, António Saraiva, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), desabafou, na TSF, que esperava outras palavras do ministro das Finanças, e que o aumento do IVA vai penalizar o consumo e a tesouraria das empresas.
«Todos os esforços que sejam pedidos às tesourarias [das empresas] são penalizadores. E vem penalizar, obviamente, o consumo. Temos que cortar na despesa, temos que mudar de vida, mas temos que ter critérios e sensibilidade social» porque muitas empresas dependem do «mercado interno», frisou.
António Saraiva acrescentou ser fácil aumentar a receita fiscal, mas é necessário um esforço por parte do Governo para para cortar na despesa pública.
«O senhor ministro frustou-nos as expectativas porque quando se anuncia que o Governo iria anunciar hoje cortes significativos na despesa, mais vale não anunciar o que depois não se faz. Obter receita é sempre a parte mais fácil, a parte mais difícil é cortar na despesa e isso não é feito. Há que ter coragem de começar a cortar na despesa», contestou António Saraiva.
Já o dirigente da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação (ACIP), Carlos Santos, disse na TSF que esta medida vai prejudicar mais o consumidor do que os próprios industriais, que podem deduzir o imposto.
«Tudo o que pagamos de IVA é descontado, agora a minha preocupação vai essencialmente para os consumidores finais, que cada vez mais tem menos dinheiro ao final do mês. Nós já sentimos, nunca vendemos tão pouco como estamos a vender agora», alertou.
Carlos Santos alertou, porém, que os industriais do sector nunca venderam tão pouco, sendo 2011 o pior dos últimos 20 anos, por isso antecipou dias ainda mais negros para o sector.
«São mais de 200 mil trabalhadores que poderão ser despedidos no sector da hotelaria e restauração com as subidas do IVA, se houver uma atitude, porque também temos serviços de alimentação, no nosso ramo também poderemos estar a falar na ordem dos 80 mil postos de trabalho em risco», referiu Carlos Santos.
O presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (AIP), João Costa, receia sobretudo um efeito de tesouraria, em consequência do aumento do IVA na electricidade.
«O aumento da electricidade na actividade das empresas não tem um efeito muito significativo. Poderá haver [apenas] um efeito de tesouraria, uma vez que, o pagamento ao Estado é mais rápido que o que ocorre no recebimento dos clientes», comentou.
«Pior seria se houvesse aumento do IVA no consumidor final e, sobretudo, na taxa máxima porque esse sim afectaria a actividade económica e o consumo», acrescentou João Costa.
João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio de Portugal, vai mais longe e revelou-se mesmo desiludido com o anúncio do ministro, lamentando que nada tenha anunciado no sentido de cortar nas despesas.
«Ficámos bastante decepcionados com a intervenção e as propostas do senhor ministro. Estavamos à espera de uma ou outra medida de agravamento, mas medidas significativas na área do corte da despesa», destacou.
«Afinal o que é dominante é claramente um aumento de custos para o sector empresarial e para os consumidores, sem que venhamos um esforço paralelo por parte do Estado», criticou João Vieira Lopes.