Economia

FMI: Endividamento excessivo das famílias prolonga e agrava recessão

O FMI defende a criação de programas abrangentes para reestruturar a dívida das famílias nas economias com pouca folga orçamental e onde este endividamento é elevado, para evitar uma recessão mais profunda e prolongada.

Num dos capítulos do 'World Economic Outlook' hoje divulgados, o FMI dedica a sua atenção ao endividamento excessivo das famílias, considerando que as crises no setor imobiliário e recessões antecedidas pelo elevado endividamento das famílias são mais prolongadas e mais severas. Na análise, o FMI diz ser possível minimizar a contração na atividade económica através de programas ousados para resolver este problema.

O fundo diz ainda que em crises com estas características, a queda no consumo privado e no Produto Interni Bruto (PIB) é substancialmente maior, o desemprego aumenta mais e a queda na atividade económica persiste durante pelo menos cinco anos.

A análise cita dados que apontam para um crescimento do endividamento das famílias em função do seu rendimento de 99 para 138 por cento nos cinco anos que antecederam o eclodir da crise financeira em 2007, tendo em alguns casos (Islândia, Dinamarca, Irlanda, Holanda e Noruega) passado a representar o dobro do rendimento.

Assim, o FMI relembra duas intervenções bem-sucedidas, casos dos programas de apoio às famílias nos Estados Unidos em 1933, na ressaca da Grande Depressão, e na Islândia, durante a crise financeira que obrigou o país a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional em 2008.

Os princípios são iguais para os casos terem sucesso: os programas têm de ser abrangentes, conter incentivos à participação de bancos e famílias, um setor financeiro forte e bem capitalizado e ainda que as famílias elegíveis a participar nestes programas tenham uma elevada probabilidade de voltar a colocar esse 'dinheiro' na economia.

No caso da Islândia, o mais recente com sucesso, os bancos que sobreviveram à crise acabaram por comprar as hipotecas no mercado ao preço justo (já com perdas assumidas) promovendo assim incentivos para renegociarem com as famílias com endividamento excessivo.

A Escandinávia na década de 90 surge como um exemplo não tão bem sucedido, porque estes países viram a sua dívida pública aumentar consideravelmente. A perda de emprego e consequente retirada de dinheiro à economia acabou por ser mitigada por uma grande volume de transferências de prestações sociais (caso do subsídio de desemprego e outros apoios automáticos) que nestes países são mais elevados e abrangentes que noutros países europeus, por exemplo.

As conclusões do FMI é que estes programas podem ter sucesso a evitar quedas maiores na atividade económica, e caso sejam bem desenhadas e com alvos específicos, podem alcançar resultados com custos orçamentais muito limitados.

Redação