O constitucionalista Jorge Miranda classificou de «tentativa desesperada» a iniciativa do Presidente da República de reunir hoje o Conselho de Estado para debater a situação de Portugal após a intervenção da 'troika'.
Falando aos jornalistas à margem da conferência Troika Ano II, organizada pelo Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal e pelo Instituto Europeu, para assinalar os dois anos da assinatura do memorando de entendimento da assistência financeira a Portugal, Jorge Miranda disse que a convocação do Conselho de Estado é «uma tentativa desesperada [de Cavaco Silva] depois do infeliz discurso do 25 de abril», tentando, desta forma «voltar à mó de cima».
O constitucionalista acrescentou que, mesmo assim, as últimas declarações do Presidente da República, «ligando Nossa Senhora de Fátima à situação económica são de uma infelicidade enorme, possivelmente anticristãs, e nem se compreende invocar o nome de Deus em vão».
Para Jorge Miranda «falar em pós-'troika' neste momento não faz nenhum sentido», mas sim «no estado atual da 'troika' e na situação em que nós estamos», classificando-a de «uma coisa absolutamente inimaginável neste momento».
Segundo o constitucionalista, «há muitos sinais que o senhor Presidente deveria ter tido em conta», logo em 2009, quando «nunca deveria ter nomeado o Governo minoritário de [José] Sócrates, que se arrastou durante 18 meses penosamente quando deveria ter procurado, nessa altura, um grande Governo de coligação como aconteceu agora em Itália».