Política

«PSD não se preparou para governar», diz Ângelo Correia

Ângelo Correia Global Imagens/Sara Matos

O ex-dirigente do PSD diz que o facto de não ter apresentado, há dois anos, uma reforma constitucional, passível de ser negociada com o PS, é uma das provas dessa falta de preparação.

Convidado do programa Bloco Central da TSF, Ângelo Correia afirma ainda que «as pessoas que foram para o Governo, todas, por mais gentis e por mais dedicados e patriotas que sejam, faltou-lhes preparação».

«Estudar, perceber, com a crise que estava à vista, o que é que ia acontecer em Portugal» com a aplicação do memorando de entendimento, para o qual olhavam como algo de «salvífico e redentor», acrescentou.

Ângelo Correia comentou o recente choque constitucional entre o Governo e o TC, e as críticas do primeiro-ministro ao chumbo do programa de requalificação na Função Pública, no discurso de encerramento da Universidade de Verão do PSD.

O antigo dirigente do PSD considera que a Constituição é tão importante para os 900 mil desempregados como para os 4,5 milhões de empregados.

Ângelo Correia afirma que a frase de Passos Coelho - «já alguém perguntou aos 900 mil desempregados de que lhes valeu a Constituição até hoje?» - é injustificável e que terá sido provocada por «excesso de empatia, ou excesso de entusiasmo» perante a plateia.

Ainda sobre matéria constitucional, Ângelo Correia relembra o projecto de revisão constitucional apresentado pelo actual primeiro-ministro ainda antes de ter conquistado o poder e afirma que Pedro Passos Coelho, ao dizer actualmente que a Constituição não é o problema, está a ser inconsistente com o que defendeu no passado.

Ainda assim, o antigo dirigente social-democrata considera que esse projecto de revisão da Constituição, apresentado pelo PSD e caído no esquecimento, era um documento que apenas «transmitia uma imagem identitária do partido», com o objectivo de «deixar uma marca história, do que o PSD pensava de novo para o país», não se preocupando em elaborar um projecto de revisão constitucional que fosse passível de ser negociado com o PS.

Com a oitava e nona avaliações à porta, Ângelo Correia considera que o Governo deveria estar a preparar o terreno para uma renegociação da dívida pública.

O fundador e antigo dirigente do PSD afirma que Portugal, com os actuais prazos e taxas de juro, não vai conseguir pagar o que deve e que o serviço da dívida, nas actuais condições, «é quase uma pré-condição para a continuação dos défices do Estado».

Paulo Tavares