É essa a análise de Margarida Ruas, especialista em marketing político, sobre a troca de argumentos entre Pedro Passos Coelho e António Costa. O desafio está muito, diz, do lado da plateia.
A investigadora começa por dizer que o que mais importa do que mais logo se vai ver, aquilo a que devemos dar mais atenção, é o que classifica como o "património imaterial do debate".
"Esse intangível, esse imaterial, é tudo o que está subjacente a um discurso que parece direto, que parece objetivo, é tudo o que está por detrás disso. Seja uma dimensão de verdade, seja uma dimensão de mentira. É tudo o que está para além, é uma espécie de meta-linguagem, que nós, enquanto opinião pública, devemos ser capazes de perceber".
É nessa camada do discurso, diz Margarida Ruas, que se destrinça o genuíno, o verdadeiro, ou, ao contrário, o engodo, o instrumental, a falsidade conveniente. Ora assim sendo, não seremos nós, os que vão ver o debate quem na verdade precisa de se preparar para ele?
"Precisamente! Porque antigamente na construção das estratégias políticas, a mentira destinava-se a enganar outros governos. Agora serve para enganar a opinião pública. Nós não podemos, de maneira nenhuma, cair nesse ardil e nessa armadilha, porque qualquer ser humano, que faz parte da opinião pública, é capaz de distinguir. Tem é de fazer a desconstrução".
Para o debate desta quarta-feira, Margarida Ruas não espera mudanças na forma e sobretudo no conteúdo. Não antecipa novidades, por muito desejáveis que elas fossem.
"Eu espero até que haja surpresas! Porque, aquilo que carateriza os lideres é uma explosão de criatividade. Eu até espero que haja surpresas, todos nós ansiamos por elas, para que haja uma rutura verdadeira com aquilo que está instalado, com aquilo que é homologado por um bom-senso que já não existe, porque estamos a viver de uma forma morna. E os países não avançam de formas mornas".
Mas, não corremos o risco de, ao contrário da virtude que a especialista em marketing político deseja para o debate, que o resultado dele venha a ser ditado sobretudo pela forma, pela imagem? Margarida Ruas admite que sim, que essa é uma possibilidade.
"Podemos, claro. Podemos correr esse risco, se a linguagem e o discurso forem apenas quase básicos, no sentido de reduzir a discussão a "ganhas tu ou ganho eu". Se assim for, há essa probabilidade".
Também é certo que eles, os debatentes, sabem que a primeira pergunta que quase todos farão quando cair o pano vai ser: "Afinal...quem ganhou?" E se a digestão não for além disso, já não será culpa deles.