Mais ativo, reconhecendo "solidez" à esquerda, sem grande críticos, com uma direção (ainda) mais alinhada. E com dois problemas a caminho: Marcelo e as autárquicas. As chaves de leitura do congresso.
1. O PSD vai ser mais pró-ativo (e quer discutir isto)
Passos Coelho fechou o congresso com uma nova agenda, prometendo levar ao Parlamento propostas em várias áreas: desde logo a reforma do sistema político, também a Segurança Social (recuperando o plafonamento), mais ainda no combate às desigualdades, no reforço da competitividade do país, atração de investimento, demografia.
Luís Montenegro levou outro tópico, que se pode cruzar com um dos do líder: um pacto fiscal, para que o IRS possa baixar para a classe média e média/alta. Depois dos primeiros meses de governação à esquerda, em que o PSD foi só crítico, virá uma de maior proatividade, tentando que a agenda de Costa não tire todo o espaço político aos sociais-democratas.
Passos continua muito cético relativamente à política económica deste Governo, diz mesmo que "mesmo correndo tudo bem" o país vai demorar a recuperar (e crescer mais de 2/ 2,5,%). Mas está cético também quanto à Europa: diz que as políticas do BCE estão a esgotar-se, que a Europa precisa de mudar as instituições e até algumas políticas.
Mas para perceber melhor o discurso de Passos, o melhor será clicar aqui e rever as seis prioridades políticas do "novo" PSD.
2. ... E já não espera a queda rápida das esquerdas
Passos, no mesmo discurso, reconheceu que o Governo com as esquerdas "ganhou consistência", embora com arestas para limar. E disse mesmo que o PSD não espera nem quer eleições tão cedo. O que isto significa para a liderança de Passos? Que Passos terá de esperar pelos resultados da estratégia da esquerda para solidificar a sua posição (acreditando, claro, que ela vai correr mal). "Não temos pressa", anunciou Passos no encerramento do congresso. "Não temos eleições à vista, é importante dizer isto", disse o líder. "Temos tempo".
3. A dívida é o próximo combate político
No combate ao modelo económico, como já se sabia, mas agora sublinhando o risco de uma reestruturação da dívida - que começou a ser discutida entre Governo PS e Bloco, num grupo de trabalho que só tem subscritores do célebre manifesto dos 74. "Se Governo alimentar ideia de reestruturar dívida, vamos perder muito", disse Passos no congresso. Nos próximos meses, vamos ouvir falar disto. Ah! E o governador do BCE está como convidado do Conselho de Estado já na quinta-feira.
4. A nova direção tem (quase) sentido único...
Uma certeza, que vem com a nova equipa de Passos: vai estar na direção quem tem o mesmo pensamento político que ele - desde logo económico. Maria Luís Albuquerque era uma das ministras mais à direita no Governo. Sofia Galvão é uma liberal, que chegou a liderar um think tank para ajudar na "reforma do Estado", quando o tema estava mais quente nas relações com a troika. A estas junta-se ainda Teresa Morais, uma governante discreta, mas fiel, Jorge Moreira da Silva, Marco António Costa e Teresa Leal Coelho. O mínimo que se pode dizer é que a direção nova estará... afinada.
5. ... E Maria Luís não é consensual.
Passos defendeu-a logo na noite da nomeação como vice-presidente: "Tenho a certeza de que não causará perturbação nenhuma. Tem grande qualidade técnica e política e eu gosto de aproveitar os nosso melhores recursos, é apenas isso". Mas nos bastidores, o nome da ex-ministra acabou por ser o tópico mais quente da discussão, com muitas críticas em off, mas também algumas (mais indiretas) em on. Como as de Pedro Duarte: "O presidente deve sentir-se bem com quem vai trabalhar. Mas se eu tivesse no lugar dele teria optado por uma estratégia diferente, com novos nomes, novas ideias, que é o que o partido precisa".
Em cima da polémica sobre a sua contratação pela Arrow, empresa financeira de Londres, também em cima da comissão de inquérito ao Banif, a sua chamada ao topo da direção é mais um sinal de Passos de que não deixa cair os seus mais próximos, seja qual for o contexto.
6. Os críticos são tímidos. E os barões não foram
Passos não tem, apesar de tudo, de temer oposição interna. Os dois críticos que subiram ao palco pouco de crítico disseram - e fizeram-no sempre ao mesmo tempo que deixavam elogios à governação passada e muitas críticas ao Governo PS. Quem foram? José Eduardo Martins, o advogado que esteve na direção de Ferreira Leite; e Pedro Duarte, ex-diretor de campanha de Marcelo. Quanto aos barões, esses ficaram de fora - e receberam muitas críticas dos que foram. Rui Rio, Morais Sarmento e Pacheco Pereira foram os "alvos" preferidos. O partido nunca esquece quem não vai.
7. Marcelo é um problema. Mas ainda se gere em surdina
Passos foi muito rápido a falar dele, logo na intervenção inicial. Deixou-o livre para não ser consensual (ou seja, para não concordar com o PSD). Mas foi pronto a exigir-lhe que "tome opções", que diga o que pensa. Isto na semana em que Marcelo promulgou o Orçamento de Costa sem dizer o que pensa dele. Passos, aliás, voltou a falar do Presidente como o "dr. Rebelo de Sousa", um sinal de que não vale a pena esperar grande proximidade entre a direção do partido e o Presidente.
No congresso, de resto, muito pouco se ouviu de Marcelo. Só um dirigente nacional, Paulo Rangel, avisou Marcelo que não esperasse disponibilidade para consensos vinda da São Caetano. E Santana Lopes, que falou de Marcelo, imagine-se, para pedir um aplauso do congresso para... Cavaco Silva. Vindo de quem veio, imagine o que isto quer dizer.
Anote: já esta segunda-feira, Passos vai estar em Belém, apresentando cumprimentos ao novo Presidente.
8. As autárquicas vão ser um obstáculo difícil
Muitas intervenções, sobretudo de gente menos conhecida, foram dirigidas às autárquicas. Passos fixou um objetivo, recuperar a maioria das câmaras ao PS. Todos lhe pedem o mesmo. Mas todos sabem que não é fácil: em 2013, o PS ganhou 150 câmaras, muitas delas pela primeira vez (o que torna mais difícil desalojá-los do poder). E os socialistas já têm mais caminho feito nas maiores câmaras do que o PSD: Fernando Medina ficou em Lisboa e já lança obra para mostrar; no Porto, o PS apoiará provavelmente Rui Moreira, que tem apoiado nestes três anos.
Junte a isto mais um sinal: quando Aguiar-Branco sobe ao palco do congresso desafiando os dois principais críticos a Passos a candidatarem-se a Lisboa e Porto, isto mostra que o partido sabe que não terá vida fácil.