Política

"Rui Rio tem de afrontar o PS, não tem de fazer acordos"

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Em entrevista à TSF, Miguel Albuquerque desafia Rui Rio a apresentar uma verdadeira alternativa à atual maioria de Esquerda e critica o atual líder do PSD por ter admitido viabilizar um governo minoritário do Partido Socialista.

Miguel Albuquerque, o senhor decidiu não apoiar oficialmente nenhum dos candidatos à liderança do PSD, mas agora que já sabe quem ganhou, quer dizer-nos se Rui Rio ganhou com o seu voto?
Quero dizer que Rui Rio ganhou aqui na Madeira independentemente da minha posição. Eu tomei uma posição muito clara em relação a esta questão. Eu não podia dividir o partido, como líder, até porque o líder regional tem uma posição de inerência na comissão política, e essa foi a minha decisão. Penso, evidentemente, que foi uma decisão sensata porque o partido, aqui na Madeira, dividiu-se na votação entre os dois candidatos, o Dr. Rui Rio ganhou cá e a situação está decidida. Ganhou, é o líder do partido, vamos apoiá-lo.

Mas agora que já estão decididas as eleições, porquê manter essa posição de imparcialidade?
Eu não tenho nenhuma imparcialidade. Neste momento, o Dr. Rui Rio é o presidente do meu partido, o que eu espero é que o Dr. Rui Rio faça uma oposição e se apresente como alternativa a esta maioria de esquerda que está a governar o país e que o PSD assuma uma posição, não como complemento ou bengala de uma eventual solução de governo de esquerdas em Portugal, mas como verdadeira alternativa porque é isso que é fundamental no nosso país. Hoje, o Partido Socialista é um partido de regime, é um partido que ocupa o Estado maioritariamente em todas as áreas e é fundamental existir uma oposição que apresente uma alternativa de governo, uma alternativa de modelo de desenvolvimento e um escrutínio das decisões que são tomadas pelo Governo.

É daqueles que acha que Rui Rio tem obrigação de ganhar as próximas legislativas?
Não é o Rui Rio que tem obrigação, eu acho que todos os militantes e quem não se revê nesta solução de esquerda deve desmitificar esta solução de esquerda porque os portugueses estão muito iludidos. Um dos trabalhos que os partidos tradicionais têm de fazer na oposição é desmistificar uma situação de ilusão, porque as cativações do Estado e os impostos diretos não acabaram com a austeridade, nem a situação do país está tão brilhante como se vem anunciando.

O Partido Socialista tem, de facto, um processo de tomada do Estado e propagandístico que é muito forte e é muito importante insistir no escrutínio por parte dos partidos da oposição, apresentando e desmistificando aquilo que são soluções miraculosas, mas que não correspondem na verdade àquilo que é a realidade do país. Se se olhar muito bem para aquilo que foram os últimos anos vê-se que a dita recuperação económica do país foi feita devido à conjuntura europeia e, sobretudo, devido ao não investimento público - nunca se investiu tão pouco nas infraestruturas públicas e nos serviços públicos -, basta ver o que se passa, por exemplo, ao nível da saúde em Portugal ou em áreas como a do investimento nos concelhos; mas também aquilo que decorreu dos impostos indiretos, não estamos a pagar mais impostos diretos, não houve aumento, houve, na verdade, um aumento dos impostos indiretos.

Que postura é que acha que o PSD deve ter na oposição daqui para a frente, sobretudo tendo em conta, por contraposição, aquilo que foi o tipo de oposição que Pedro Passos Coelho fez até às últimas autárquicas com os resultados que se viram naquelas eleições?
Eu acho que, neste momento, o país tem duas opções: ou muda o modelo ou não cresce economicamente. Nós temos uma sociedade assimétrica, desigual, mas o país - e os portugueses têm de compreender isto - tem uma nova geração que é qualificada, mas que tem toda a necessidade de se inserir no mercado global, pois hoje o mercado é global. Esta geração que tem 25, 30, 35 anos é uma geração que tem expectativas relativamente àquilo que são as respostas do próprio país para o desenvolvimento das suas potencialidades. Nós ainda estamos marcados por um Estado Social, que é um Estado que paga 366 000 salários e três milhões de pensões. Mas, se for ver a realidade dos portugueses vê que a maioria dos portugueses ganha mais de 700 euros líquidos por mês, ou seja, é um país pobre. Nós precisamos de dar a volta a isto.

Somos, a nível mundial, um país que tem, na verdade, um nível de desenvolvimento elevado no contexto global, mas no contexto europeu estamos atrás dos outros; se olharmos para o crescimento de Espanha, vemos que a Espanha tem crescido, e ainda bem porque leva por arrasto a economia portuguesa. Nós temos de apostar hoje numa sociedade mais dinâmica, numa sociedade de empreendedorismo, numa sociedade que se liberte das garras do Estado porque o assistencialismo é importante, mas não vai resolver o problema dos rendimentos dos portugueses.

Um dos aspetos mais polémicos da campanha interna do PSD teve a ver com a posição que Rui Rio assumiu caso perca as eleições em 2019 ou, de outra forma, caso o PS ganhe sem maioria absoluta. Rui Rio mostrou-se disponível para dar apoio parlamentar a um governo minoritário do Partido Socialista. Parece-lhe um bom princípio, este?
Não, parece-me que não é um bom princípio. A primeira coisa que temos de ter é a noção de ganhar as eleições, a perspetiva posterior, acho que é estarmos a dar algum conforto, alguma liberdade negocial ao próprio PS antes das eleições.

Portanto, posso deduzir antes das suas palavras que se Rui Rio perder as próximas legislativas deve sair da liderança do PSD?
Não, não, o que deve deduzir é que, em primeiro lugar, nós não vamos para eleições para perder, nós vamos para eleições para ganhar. A história de "e se perder" é uma questão posterior, o que nós temos de fazer é uma boa campanha, uma campanha incisiva, que denuncie em termos de democracia e de liberdade de informação aquilo que está mal feito no Governo e aquilo que nos propomos apresentar como alternativa e aproveitar este momento para recrutar novos quadros para o PSD. O PSD precisa de novos quadros, de um pessoal político rejuvenescido para fazer uma oposição acutilante, mas quando estamos aqui a falar de novos quadros não é de técnicos muito bons que não percebem nada de política nem sabem comunicar. Temos de ter pessoas que tenham um discurso anglo-saxónico e objetivo, curto e incisivo e que ponham o dedo na ferida, onde é preciso pôr.

Miguel Pinto Luz escreveu a Rui Rio e disse-lhe que ele não podia viabilizar o Orçamento do Estado do próximo ano. Concorda?
Isso depende de se o Orçamento do Estado contempla ou não contempla aquilo que são as reivindicações do Partido Social Democrata.

Portanto, a sua posição seria manter o voto em aberto até conhecer o Orçamento?
O voto está sempre em aberto, é assim que se negoceia em política. Pode-se aprovar, abster, a abstenção não deixa de ser um valor em política.

O senhor foi um apoiante de Pedro Passos Coelho desde a primeira hora. Agora, que há uma nova liderança de Rui Rio, está disponível para ajudar Rui Rio e integrar a direção dele, se for convidado para isso, por exemplo?
Eu integro a direção porque os líderes regionais fazem parte da Comissão Política por inerência. Nós aqui na Madeira somos o único centro de poder, estamos aqui cercados, - somos uma espécie de aldeia do Astérix, como costumo dizer - por um imenso e assoberbante poder rosa, ou seja, o partido mexicano do regime está a dominar isto tudo e quer também tomar o poder aqui, portanto nós precisamos de um novo impulso do partido a nível nacional, até para nos ajudar aqui nas próximas eleições.

LEIA E VEJA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA A MIGUEL ALBUQUERQUE AQUI.