Política

"Passos Coelho era uma espécie de primeiro-ministro no exílio"

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Em entrevista à TSF, Miguel Albuquerque reconhece que foi muito difícil para Passos Coelho fazer a transição de primeiro-ministro/líder da oposição e espera que Rui Rio não seja politicamente correto.

O que é que falhou na estratégia de Pedro Passos Coelho?
Eu acho que Pedro Passos Coelho tem de ser visto como um homem que pegou no país à beira, ou na eminência, da bancarrota. Portugal precisava de 78 mil milhões de euros e esse dinheiro veio para Portugal senão não conseguíamos pagar os salários da função pública, nem o serviço de saúde nem a educação nem coisa nenhuma. Portanto, teve de fazer um acordo com os credores, um acordo com o FMI, com a União Europeia, etc. e isso impôs um conjunto de cláusulas e de condições muito duras. Houve obviamente uma grande coragem e, diria, algum estoicismo na aplicação destas medidas.

E mesmo assim ganhou as eleições.
E mesmo assim ganhou as eleições.

O que é que correu mal daí para a frente?
Não correu mal, depois o Partido Social Democrata, ou seja, a anterior maioria, não tendo sido viabilizado o Governo no quadro parlamentar e as forças perdedoras terem organizado uma solução de governo para o país, a situação de Pedro Passos Coelho ficou, evidentemente, muito difícil. Porquê? Porque Passos Coelho estava formatado ainda como primeiro-ministro, portanto era muito difícil fazer esta reconversão de primeiro-ministro para líder da oposição relativamente a uma maioria que foi constituída contra as expectativas dessa mesma maioria.

Acha que ele era uma espécie de primeiro-ministro no exílio?
De certa maneira. Era uma posição muito difícil, mas não deixo de sublinhar que esta governação, independentemente de terem diabolizado o Dr. Passos Coelho, tinha assinado a intervenção da troika pelo Partido Socialista, o PS viabilizou esta solução. Depois, como nós temos a memória curta e, muitas vezes, os portugueses não gostam de olhar para a realidade, o PS aparece como o grande salvador da pátria, quando o Governo do PS é que levou o país à bancarrota, o seu Governo subscreveu a intervenção da troika em Portugal - não tinha outra alternativa - e, passado pouco tempo, depois de o trabalho duro ter sido feito aparece como salvador da pátria.

Parece que afinal não era a Terra que girava em torno do Sol, mas sim o contrário, o Sol é que girava em torno da Terra; só que isso, normalmente, tem consequências nefastas para a própria evolução do país.

Rui Rio é um político politicamente correto?
Eu espero que não seja. Pelo menos, no Porto não foi. Acho que, hoje em dia, em política há duas coisas essenciais: é preciso coragem física, a política exige confronto, exige dialética, e uma capacidade de resistência e de imunidade relativamente às opiniões públicas, publicadas ou manipuladas é fundamental. É fundamental afrontar o poder instituído do Partido Socialista, afrontá-lo sem medo porque, hoje em dia, com aquela coisa do politicamente correto, uma pessoa diz qualquer coisa de forma perentória e é logo censurada porque está a ser malcriada ou está a falar alto ou a falar baixo. As democracias parlamentares exigem a dialética e o confronto em política e quem vai para a política não tem de fazer acordos, os acordos são exceções em política. Há áreas que devem ser consensualizadas, aliás, uma delas é o Pacto para a Justiça que o senhor Presidente da República defendeu e continua a defender, e bem, mas nós não temos de ter nenhum problema em afrontar.

Há necessidade de olharmos para a realidade do país. Toda a gente diz: "O país está fantástico". Como é que o país está fantástico se quatro milhões e tal de portugueses ganham 700 ou 750 euros líquidos? Está fantástico? Não temos mais ambição? Não era ótimo que estas pessoas ganhassem muito mais? Nós, neste momento, temos de olhar para setores fundamentais da nossa sociedade e fazer apostas de desenvolvimento, de captação de investimento estrangeiro, de internacionalização e de criação de uma rede como por exemplo os irlandeses têm.

LEIA E VEJA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA A MIGUEL ALBUQUERQUE AQUI.