Música

Fogo em Pedrógão inspira escocês. "Atmosfera estranha" transformou-se em música

Ciorstaidh Monk

Rick Webster estava numa residência artística em Góis quando o incêndio de Pedrógão Grande deflagrou. À TSF conta como a experiência o inspirou a compor um álbum.

A agitação dos pássaros, as árvores, as pessoas a protegerem as casas, o sino da igreja. Os sons foram gravados por Richard Luke (ou Rick Webster, vocalista dos escoceses Unkle Bob) durante a residência artística que fez na aldeia de Bordeiro, em Góis, entre 7 e 21 de junho, e integram algumas das músicas do álbum instrumental "Voz".

"Três ou quatro dias antes de eu partir, tudo aconteceu depressa, no primeiro dia toda a gente falava do fogo que ainda andava longe, não era preciso preocuparmo-nos, mas a cada dia o fogo estava mais perto de Góis", conta Richard, que estava a trabalhar num álbum a solo quando o fogo se impôs. "Vi o fogo no horizonte, pudemos ver desde o início", revela o músico à TSF.

Desde logo, Richard Luke sentiu que existia "uma atmosfera muito estranha". "Os pássaros começaram a ter um comportamento muito estranho por causa do fogo. Às vezes estavam completamente parados e outras vezes andavam muito agitados e voavam à volta e cantavam, sabiam que alguma coisa ia acontecer."

Apanhado no meio de um processo criativo, o músico escocês estava à procura de um caminho musical depois de ter ficado sem voz, Richard sentiu a urgência de registar aquela atmosfera e é por isso que o álbum "Voz" tem marcas do fogo.

"No final da música Wildfire é possível ouvir os sinos da igreja e, se se ouvir com muita atenção, também o som da árvores à volta da casa". Richard Luke diz que nas músicas que compôs quis transmitir a atmosfera do momento, "algo de belo e também de mortal".


Sobre a experiência na residência artística da associação Raizvanguarda, o músico fala de uma grande experiência, de uma oportunidade para conhecer muita gente e uma zona de Portugal que nunca tinha visitado.

"Adorei estar em Góis, a trabalhar neste disco e a passar bons momentos, fazia música, ia nadar, passear, boa comida, fruta... Antes do fogo foi fantástico", afirma Richard Luke. "O fogo preocupou toda a gente, mas nós continuamos vivos, se é que me entendes".

O diretor da associação Raizvanguarda quer trazer a Portugal Richard Luke e a violinista Amira Bedrush-McDonald, que o acompanha neste álbum, para uma apresentação do disco em Góis já no próximo verão.

"É algo que quero muito fazer, espero fazê-lo. Quando estive em Portugal construi as ideias, a maior parte das melodias e quero voltar a casa", confessa o músico.