Projeto do arquiteto Jorge Mealha para os edifícios centrais do Parque Tecnológico de Óbidos soma vários prémios internacionais, entre eles o The American Architecture Prize.
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Estão mesmo ali, mas quase não os vemos. Os edifícios centrais do Parque Tecnológico de Óbidos vão-se revelando, sem pressa, como uma ideia que pousa suavemente no horizonte. Jorge Mealha é o autor do projeto vários vezes premiado em concursos internacionais, que se distingue pela harmonia com o meio envolvente.
De acordo com o arquiteto, a zona de implantação era uma espécie de "ferida na paisagem", que serviu de aterro ao estaleiro da autoestrada A8, "no meio de um território de floresta e mato pontuado por algumas construções" - casario baixo, instalações industriais e agropecuárias que formam linhas brancas mais ou menos regulares.
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Ao longe, os edifícios centrais do Parque Tecnológico de Óbidos são percebidos "quase como um muro", diz Jorge Mealha, que gosta de subir ao Castelo da vila medieval e ver que o programa que desenhou surge como "mais um risco branco na paisagem que se dissolve no meio dos outros".
A intervenção parece pairar sobre o manto verde porque "os edifícios que tocam no chão não são vistos como tal" e encontram-se "cobertos vegetalmente". Os outros 2.100 metros quadrados formam "um anel quadrado" que "só toca no terreno em seis pontos". A ideia foi "sugerir uma plataforma mais ou menos natural sobre a qual assenta um quadrado muito bem definido geometricamente", explica o arquiteto com ateliê em Carcavelos.
Dois pisos, que somam 4200 metros quadrados. Em baixo um L em betão e aço, a lembrar uma gruta; em cima um claustro formado por quatro pontes habitadas. "Há um contraste entre as duas opções: o que está na terra é natural, o que paira sobre a terra é artificial e de alguma maneira é uma expressão da geometria", revela Jorge Mealha.
E argumentos para tanto sucesso nas revistas da especialidade e nas universidades? Dois. A perspetiva sobre o território que diminui ao máximo a superfície impermeável visível e a desconstrução da lógica convencional de escritórios.
Miguel Silvestre, diretor do Parque Tecnológico de Óbidos, destaca o terreiro onde toda a vida dos edifícios vai desaguar. Uma praça central que "facilita a dinamização" de atividades e "é muito importante" para uma estrutura de incubação de negócios e trabalho partilhado.
Num concelho que pretende captar empresas disruptivas e afirmar-se pela inovação, nada melhor do que um projeto de referência, que até atrai turistas da arquitetura. "O facto de o edifício ter estas características tem sido um dos fatores que nos tem permitido algum reconhecimento internacional", afirma Miguel Silvestre.
Nos edifícios centrais do Parque Tecnológico de Óbidos trabalham mais de 100 pessoas, em 30 empresas.
Além do American Architecture Prize, o projeto ganhou o German Design Award e foi finalista do Mies Van Der Rohe Award.
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