"Arte é política, o homem é a sua arte." Salvador Sobral diz que Portugal deve ficar de fora da Eurovisão se Israel participar
Em entrevista à TSF, Salvador Sobral defende que, tal como aconteceu com a Rússia, também Israel deve ser afastado do festival e lamenta a "dualidade" de critérios: "Desde que o genocídio é declarado, é óbvio que Israel não pode estar na Eurovisão a cantar canções de circo"
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Não pode haver dois pesos e duas medidas. É com esta ideia que Salvador Sobral, o único cantor português que venceu um festival da Eurovisão, defende que, tal como aconteceu com a Rússia, também Israel deve ser expulso do concurso. Entrevistado pela TSF, Salvador Sobral espera que a RTP siga o exemplo de Espanha e que Portugal fique fora do festival se Israel estiver presente. O artista discorda de Simone de Oliveira, que, na terça-feira, disse, também em declarações à TSF, que não se deve misturar política e música.
“Não podia estar mais em desacordo. Toda a arte é política e obviamente que se deve misturar, o homem é a sua arte e deve falar-se das convicções de cada autor nas obras que faz. Porque isso está tudo presente na arte, a arte também é política. Eu estou completamente contra essa máxima de que não se pode misturar a arte com política. A verdade é que a arte mudou coisas na política. Expulsar Israel da Eurovisão é algo simbólico, reconhecer o Estado da Palestina também é simbólico, mas com muita força, com uma flotilha que vai até Gaza. São coisas simbólicas, obviamente com dimensões diferentes. Está na hora de Portugal acordar, tanto no Governo como no canal público, que deve tirar a participação de Portugal se Israel participar, não tenho dúvidas nenhumas", explica à TSF Salvador Sobral, lamentando a "dualidade de critérios".
"Quando começou a invasão da Ucrânia, todos os países na Europa começaram logo com sanções à Rússia e com Israel é o contrário, não se percebe porquê, há uma impunidade. E a Eurovisão segue a mesma linha dos governos, que é uma linha de total negação daquilo que está a acontecer e então decidem deixar que Israel participe na Eurovisão. Para mim, era mais do que óbvio, assim como a Rússia foi logo expulsa da Eurovisão, Israel tem de ser expulso logo desde que começou agora esta leva de ataques mais intensa. Desde que o genocídio é declarado, é óbvio que Israel não pode estar na Eurovisão a cantar canções de circo, não faz nenhum sentido", sublinha.
A RTP vai reunir-se na próxima semana com a União Europeia de Radiodifusão, numa altura em que a televisão pública espanhola já decidiu que não vai participar na Eurovisão se Israel não for expulso. Salvador Sobral entende que a posição da RTP, até agora, tem sido "coerente com a posição do Governo".
"É tentar não fazer muito barulho e tentar não chatear, não fazer nenhuma sanção a Israel, nem sequer ainda reconhecemos o Estado da Palestina, vamos ver quando é que isso acontece. Em Portugal é assim, o Governo não tem essa força que têm outros governos de dar um murro na mesa. Infelizmente não temos essa capacidade, mas já seria simbolicamente muito forte se pelo menos o canal público o fizesse", acrescenta.
Na Eurovisão de 2025, que decorreu em Basileia, na Suíça, a Áustria venceu e Israel ficou em segundo lugar, tendo recebido a pontuação máxima do televoto em Espanha.
O ataque do Hamas em outubro de 2023 resultou na morte de 1219 pessoas, na sua maioria civis, de acordo com um levantamento da AFP baseado em números israelitas. Dos 251 reféns capturados durante o ataque, 47 permanecem em Gaza, incluindo 25 que, segundo o Exército israelita, estão mortos.
A ofensiva de retaliação de Israel matou pelo menos 64 656 palestinianos, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, que a ONU considera fiáveis.
A Eurovisão é organizada pela União Europeia de Radiodifusão em cooperação com os seus membros, emissoras públicas nacionais como a AVROTROS, em mais de 35 países.
