Há mais de duas décadas que Bob Dylan, agora Prémio Nobel da Literatura, é estudado na mais antiga e tradicional universidade portuguesa.
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Em Coimbra, um inglês, especialista em estudos americanos herdou de outro colega inglês a paixão pelos estudos de Bob Dylan e coloca, em quase todos os seminários que dá em Coimbra, o tema em cima da mesa.
Confessa que a primeira reação da academia é de estranheza, mas depois o interesse é generalizado. Assume que a entrega da distinção a Dylan é controversa, mas na sua opinião está bem entregue e faz repensar o conceito de literatura.
Stephen Wilson sorri para dizer que ensina em Coimbra, uma universidade carregada de tradição, Bob Dylan ao lado de nomes como Shakespeare, e volta a sorrir para acrescentar que não foi o pioneiro, porque quando chegou a Coimbra já o colega Chistopher Rolinson, "que agora foi para o Parlamento Europeu e que era um apaixonado e um perito em Dylan, e ainda é", já o fazia. "Ele foi a primeira pessoa em Portugal a ensinar Dylan", garante.
Com a saída do colega para o Parlamento Europeu foi Stephen Wilson quem pegou na matéria "Bob Dylan". "Nas minhas aulas de estudos culturais americanos, tento sempre falar de Dylan. Acho que não é um escritor muito interessante, mas um fenómeno social de referência".
E por isso, Bob Dylan é quase sempre tema nos seus seminários. Os alunos primeiro estranham, mas depois vão na cantiga e agrada-lhes estudar Bob Dylan. "Sei que Coimbra é uma universidade antiga, muito tradicional e questionava-me se iriam gostar, mas gostam." A reação foi muito boa e mesmo tratando-se de estudantes cujos pais nasceram quando Dylan começou a gravar, "têm interesse e vêm ter comigo a fazer perguntas".
Recosta-se na cadeira e cruza a perna para dizer que não tem dúvidas: o prémio Nobel foi bem entregue. "Todos os prémio Nobel são controversos, e como todos têm uma grande componente política, talvez todos eles sejam políticos", advoga.
Reconhece a controvérsia na entrega, mas até acha positivo. Desconhece todos os critérios para a atribuição do Nobel, mas sabe perfeitamente o que ele não é. Não é como uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Não é como dizer "tu és o Usain Bolt da Literatura. Não é isso".
Uma coisa é certa, diz Stephen Wilson, nunca haverá consenso na atribuição de um Nobel da literatura. Entregá-lo a Bob Dylan está a fazer a academia repensar o conceito de literatura.