António de Almeida Ribeiro diz que proibição da burca e discurso xenófobo "não podem ser aceites pelos portugueses"

António de Almeida Ribeiro, secretário-geral interino do KAICIID
KAICIID
O secretário-geral do KAICIID e antigo embaixador português, António de Almeida Ribeiro, considera que "tudo o que ponha em causa a tradição portuguesa de inclusão não pode ser aceitável pela maioria das pessoas"
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A aprovação na generalidade da lei que visa a proibição da burca e niqab, pelo Parlamento português, e o emergente discurso racista e xenófobo vindo da extrema-direita em Portugal "são casos que não deixam de ser preocupantes", defendeu esta terça-feira o secretário-geral interino do Centro Internacional Rei Abdullah Bin Abdulaziz para o Diálogo Inter-religioso e Intercultural (KAICIID), António de Almeida Ribeiro.
"Portugal tem uma tradição secular de abertura e de hospitalidade, de inclusão e, portanto, tudo o que ponha em causa essa tradição - que é uma tradição arreigada na esmagadora maioria da população portuguesa - não pode, naturalmente, ser agradável nem aceitável pela maioria das pessoas", defendeu, em declarações à TSF, no 6º Fórum Europeu de Diálogo, organizado pelo KAICIID, que está a decorrer em Genebra, na Suíça.
Para António de Almeida Ribeiro, o diálogo é a chave para combater o crescimento da intolerância.
"O diálogo entre líderes religiosos com diversas posições é fundamental para transmitir às respetivas comunidades que é possível dialogar e que é possível aceitar o outro. É essa a base da nossa política no KAICIID. Nós absolutamente defendemos a defesa dos direitos dos outros, o respeito pelos outros e o diálogo como forma de solucionar os problemas e de evitar o agravamento das tensões e dos conflitos", afirmou o também antigo embaixador português.
"O principal objetivo do Fórum Europeu de Diálogo Político é reunir decisores políticos, líderes religiosos, sociedade civil, jovens responsáveis de organizações não-governamentais. Enfim, um pouco de todo o espectro da sociedade, no sentido de refletir sobre a atual situação na Europa em termos de direitos, de inclusão, de acesso aos serviços, respeito pelo outro, diversidade, em suma respeito pela dignidade humana."
Entre os participantes do 6º Fórum de Diálogo Político, os jovens com menos de 30 anos compõem cerca de 30% dos participantes. Isto porque o KAICIID acredita, segundo António de Almeida Ribeiro, "que os jovens são o futuro das sociedades".
"O futuro da Europa está muito naquilo que são os jovens de hoje que serão os futuros líderes de amanhã. É preciso ouvi-los, é preciso perceber quais são as suas preocupações, quais são os seus anseios, os seus objetivos em termos de alcançar uma sociedade mais justa e mais equitativa. E, portanto, quisemos neste Fórum dar palavra em especial a essas pessoas mais jovens, de origens e religiões diversas. É no sentido de, em conjunto, refletirmos sobre as melhores soluções para uma sociedade mais justa, mais igual, mais respeitadora do diálogo e dos direitos de cada um", explicou.
Do Fórum, que termina esta quinta-feira, vai resultar "um apoio para um documento que é um plano de ação para os próximos anos."
"Por outro lado, criar uma rede de cidades europeias no sentido de promover justamente o diálogo como forma absolutamente indispensável e não substituível com as diversas realidades que a sociedade europeia tem nas suas cidades, nos seus países. E, portanto, eu espero que daqui saia um apelo muito forte para que todos, nas suas diversas religiões, nas suas profissões, nas suas atividades políticas, sejam a favor e procurem uma maior inclusão e uma maior hospitalidade para todos e um maior respeito e um maior diálogo", concluiu António de Almeida Ribeiro.
A TSF está na Suíça a convite do Centro Internacional Rei Abdullah Bin Abdulaziz para o Diálogo Inter-religioso e Intercultural (KAICIID).
