Casper Tengstedt e Andreas Schjelderup são dois dos nomes destacados nos campeonatos de Dinamarca e Noruega. Na TSF, o treinador português Frederico Pereira Morais avalia os dois jogadores associados a Sporting e Benfica. Há seis anos na Noruega, o técnico português explica porque olham cada vez mais os clubes das maiores ligas europeias para estes mercados.
Corpo do artigo
O treinador português Frederico Pereira Morais enumera algumas das qualidades que distinguem os jogadores jovens formados nos campeonatos da Dinamarca, Noruega, Suécia ou Finlândia. Para além das diferentes origens - jogadores nascidos nesses países, mas filhos de emigrantes, jovens que chegam do continente africano através de parcerias de clubes -, há uma conduta de trabalho que faz florescer talentos em ligas onde há oportunidades para os mais jovens, indica o treinador adjunto do Sarpsborg 08, no principal escalão do futebol da Noruega.
"São muito respeitadores do treinador, das normas da equipa, quase colocando o ego de parte em favor daquilo que são as indicações do técnico, das normas da equipa, da sua função no coletivo. Têm uma capacidade de trabalho diferente do que se encontra atualmente noutros locais da Europa". O treinador português de 34 anos concretiza com um exemplo. "A chegada de Aursnes ao Benfica foi uma surpresa para muita gente. Para mim não porque eu sabia das qualidades que tinha", indica o treinador sobre o internacional norueguês que chegou no início da temporada a pedido de Roger Schmidt.
"Cada vez mais observamos jogadores jovens com focos diferentes daquilo que deveria ser um jogador jovem", explica o treinador. "A preocupação sobre aquilo que fazem no treino, no estilo de vida que têm, da alimentação. Como falamos de países muito desenvolvidos, na formação, no que os jogadores têm disponível, pela ligação que há entre os clubes e as escolas". No caso particular da Noruega, indica, há que acrescentar o fator preço. "É um mercado relativamente barato", inexplorado em grande medida pelos clubes das ligas de topo que dominam o futebol europeu.
TSF\audio\2023\01\noticias\04\frederico_morais_bruto_noruega
Da linha para a área, Andreas Schjelderup como Simão
"O Andreas Schjelderup é um diamante, um jogador que está agora a dar os primeiros sinais", explica Frederico Pereira Morais sobre o alvo do Benfica no mercado de inverno. Norueguês, formando no Bodo Glimt, o médio ofensivo é o melhor marcador do atual campeonato da Dinamarca, ao serviço do Nordsjaelland. "Um jogador como este, ou se consegue no início da sua caminhada, para lhe dar jogos, espaço para se desenvolver, ou, se for para um outro clube, sairá muito mais caro no futuro", aponta o técnico português. Para um clube como o Benfica é agora ou nunca.
"Ele traria algo que se tem falado muito nos últimos tempos que o Benfica precisa. Um jogador driblador, capaz de superar situações de um para um", começa por descrever o técnico. Há uma imagem conhecida que ilustra as capacidades do jogador. "A partir da linha, jogando em largura, pode vir para dentro criando movimentos de ruturas, diagonais. Quase como um Simão Sabrosa de outros tempos", indica.
Aos 18 anos, Schjelderup apenas terminou em campo um dos 17 jogos que soma na liga dinamarquesa. "O Andreas não tem muitos 90 minutos nas pernas. É um jogador vertical, muito agressivo em todas as ações. Sempre que toca na bola ou tem um drible, ou um passe de rutura para um colega. Ele em 15 minutos consegue ter uma intervenção no jogo que é difícil para um outro jogador. Neste momento seria difícil vê-lo como titular numa equipa como o Benfica, mas, como um "abre-latas", um jogador capaz de abrir espaços e criar situações de que o jogo precisa, aí sim, sem dúvida seria uma aposta interessante para o Benfica".
Da área e para a área, Casper Tengstedt como Paulinho
Com um percurso inverso ao de Schjelderup, Casper Tengstedt trocou o futebol dinamarquês por uma oportunidade no Rosenborg, um dos melhores clubes do futebol norueguês. Aos 22 anos anotou 14 golos em 14 jogos na segunda metade da temporada no Rosenborg (terceiro classificado numa liga que terminou em novembro). Apontado ao Sporting, Frederico Pereira Morais acredita que o jogador pode ter impacto numa liga como a portuguesa.
"Ele é um ponta de lança, um finalizador nato. Gosta de tirar o adversário do caminho e finalizar. É muito inteligente nas movimentações na área, ágil e agressivo. É também forte no jogo aéreo e, por isso, o jogo dele é na área adversária". Acrescenta ainda qualidades físicas. "É forte na proteção à bola quando de costas", que lhe permite ganhar lances nos duelos". Somando estas qualidades, Frederico Pereira Morais acredita que Tengstedt poderia marcar golos com facilidade em Portugal.
"É muito novo e está a dar os primeiros passos como sénior. Pensando no Sporting e na forma como Rúben Amorim quer jogar, acho que ele se adaptaria a jogar num ataque com três homens, ou mesmo num sistema com dois avançados e um dez. Na carreira dele jogou em três equipas que estão habituadas a dominar o jogo, com adversários que se retraem", descreve o técnico português. "Acho que o Paulinho está muito próximo dele na forma de jogar. Poderia ser uma alternativa ou uma segunda opção muito semelhante para acrescentar ao jogo. Seria um bom investimento".
Da Noruega para os melhores campeonatos da Europa, a janela do mês de janeiro já acrescentou Ola Solbakken à Roma de José Mourinho (extremo que estava no Bodo Glimt), mas também David Datro Fofana ao Chelsea de Graham Potter (ponta de lança costa marfinense que estava no Molde, campeão). Mas há mais talento para conhecer num país que tem agora referências como Martin Odegaard e Erling Haaland. "Há um jogador que esteve em Portugal, passou pela formação do Futebol Clube do Porto por alguns anos. Por uma questão de idade acabou por não ter a possibilidade de ser inscrito."
Agora está no Manchester City, chama-se Oscar Bobb: "Vem crescendo por esses escalões fora. É de 2003 e acredito que é um dos nomes que vamos ver aparecer na Europa."