Aos 51 anos, George Weah, ex-avançado de PSG e AC Milan, ganhou as presidenciais no seu país. Em 1995, quando ganhou a Bola de Ouro, Nelson Mandela chamou-lhe o "orgulho de África".
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George cresceu em Clara Town, na periferia de Monrovia, a capital da Libéria. Foi aí que se apaixonou: bola no pé, terra para galgar, pó no ar e um rio como testemunha. O futebol guardaria o apelido Weah numa gaveta especial.
George Weah, eleito presidente da Libéria aos 51 anos, foi o primeiro não-europeu a vencer a Bola de Ouro. Mais: foi o único africano a receber o estatuto de melhor jogador do mundo. Foi em 1995, um ano em que vestiu duas camisolas: PSG e AC Milan. Nessa altura já mudara a morada para o topo do futebol mundial, muito longe da realidade do clube Mighty Barrolle, o primeiro onde jogou no seu país. Nelson Mandela, que lhe daria conselhos políticos mais tarde, chamou-lhe então o "orgulho de África".
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Weah tropeçou em portugueses ao longo da carreira: Rui Barros no Monaco e Paulo Futre no Milan, por exemplo. Mas também foi orientado por um homem que fala a língua de Pessoa: Artur Jorge chegou a Paris em 1991 e os dois coincidiram entre 1992 e 1994. Foi o português que o contratou. Na segunda época do avançado africano no PSG o clube somou o segundo troféu de campeão nacional da sua história, imitando o que fizera em 1986. Os colegas eram jeitosos: Lama, Ricardo Gomes, Valdo e Ginola (ver aqui a história do homem que morreu duas vezes).
Antes jogara no Monaco (depois de um ano à maneira no campeonato camaronês), onde venceu apenas uma Taça de França, mas foi em Londres que conheceu o conceito de amor e, porventura, reconhecimento. O responsável foi Arsène Wenger, o atual treinador do Arsenal, a quem dedicaria a Bola de Ouro em 95. "Quando me mudei para Monte Carlo não joguei nos primeiros seis meses. Mas estava determinado a mostrar o meu talento, para provar àqueles no meu país, que pensava que aquilo seria uma perda de tempo, que eu era um bom jogador", contou recentemente ao The Guardian.
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"[Wenger] era uma figura paternal e cuidou-me como um filho. Este foi o senhor, numa altura que o racismo estava no seu auge, que me mostrou amor. Ele queria que eu estivesse no campo por ele todos os dias. Uma vez eu estava cansado de treinar e disse-lhe que estava com uma dor de cabeça. Ele disse-me: 'George, eu sei que é duro mas tens de trabalhar arduamente. Eu acredito que com o teu talento te possas transformar num dos melhores jogadores do mundo'. Eu ouvi e continuei. Para além de Deus, eu penso que sem o Arsène não teria sido possível dar-me bem na Europa."
É inesquecível aquele estilo de Weah, aquela cavalgada imparável, a bússola virada para a baliza. A técnica, o faro. Aquela potência e alegria, um jeito muito africano de jogar, sem ruído e truques. Depois de somar troféus e camisolas como Monaco, PSG, Milan, Manchester City, Chelsea e Marselha, segue-se a presidência do país.
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O desafio é monstruoso. Segundo o The Guardian, 250 mil pessoas terão morrido nas duas guerras civis (1989-2003). Recentemente, em 2014, um surto de ébola arrasou o país. A pobreza vive em todo o lado, sendo que 80% da população vive com menos de um euro por dia. A escolaridade infantil é outro drama.
Weah, o ídolo de extraterrestres de tempos idos como Thierry Henry e Ronaldo Fenómeno, promete ventos de mudança.