
Álvaro Isidoro/Global Imagens (arquivo)
O treinador que conquistou a Liga dos Campeões jovem (Youth League) para o Benfica e a Taça Intercontinental explica na TSF que a capacidade mental de João Neves e Martin Neto distingue os dois médios de outros talentos.
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A pressão de jogar num estádio com 60 mil adeptos e a obrigação de vencer todos os fins de semana com atenção dos adeptos em cada pormenor do jogo são desafios difíceis de superar, mesmo para quem trabalhou durante mais de uma década num clube grande com o objetivo de chegar ao nível sénior. O treinador Luís Castro destaca, na TSF, a capacidade de jogadores como João Neves ou Martim Neto de se superarem perante a exigência dos adeptos.
Durante o percurso na formação do Benfica, Luís Castro viu muitos casos de sucesso, mas também outros jogadores que não conseguiram confirmar o que o talento prometia. O técnico deixou o Benfica em junho depois de uma temporada na 2.ª Liga ao serviço da equipa B. A temporada seguinte à conquista da Youth League (a primeira para o Benfica depois de várias finais perdidas), e a novíssima Taça Intercontinental (diante do Peñarol).
"Muito sinceramente a afirmação [na primeira equipa] do João Neves não me surpreendeu. Ele já tinha estado comigo na equipa de sub-23, e depois na equipa B, na Segunda Liga. Jogou a Taça Intercontinental, foi titular - porque mereceu, porque tem excelente nível - e no primeiro jogo para a Segunda Liga, logo após a Intercontinental, teve uma lesão que o fez parar durante algum tempo", explica o treinador de 43 anos.
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João Neves estava preparado para se impor, muito porque, além das condições técnicas, demonstrava uma atitude competitiva de elite. "Eu sabia - mas não era apenas eu, muita gente no Benfica - que o João Neves era um jogador muito completo e que poderia, até pelas características mentais que tem, estar preparado", resume Luís Castro. A oportunidade surgiu, João Neves ganhou espaço nos treinos de Roger Schmidt e acabou como titular no Benfica campeão em 2022/2023.
Martim Neto preparado para o futebol de primeira
Para travar mais uma saída a custo zero, o Benfica colocou nos últimos dias em cima da mesa uma proposta para renovar contrato com Martim Neto por cinco temporadas, que já assinou. O médio foi uma peça essencial na conquista da Youth League.
"O Martim Neto já esteve na pré-epoca do ano passado (2022/2023). O que posso dizer sobre o Martim (Neto) é que se trata de um jogador de alto nível. Demonstrou essa qualidade tanto no Benfica como na seleção em diferentes momentos da sua carreira", nota Luís Castro.
Neto enfrentou algum tempo de paragem por lesão em 2022/2023, desceu à equipa B depois da pré-temporada com Roger Schmidt e reencontrou nesse espaço Luís Castro. "Na parte final da temporada já conseguiu ajudar a equipa e estar a um bom nível [na Segunda Liga]. A lesão está totalmente debelada e o Benfica conhece bem o Martim, sabe o que pode contar da parte dele. A lesão não foi tão grave quanto isso."
E há nele um aspeto que o aproxima de João Neves, na opinião de Luís Castro. "Se há algo que o Martim tem é uma força mental muito grande, está habituado a passar por muito na sua vida profissional. Não sei se ele renovou ou não, mas confirmando-se essa renovação, a parte mais difícil vai ser a parte da concorrência, que é elevada", apontava o treinador ainda antes de o clube ter confirmado, esta tarde, a renovação por cinco anos.
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"O Martim é um jogador completo. No momento ofensivo já o mostrou, talvez o momento de maior visibilidade tenha sido a Youth League. Marca o primeiro golo nas meias-finais e marca também o primeiro golo na final. Mesmo no aspeto defensivo é um atleta com boas características, fisicamente forte, com boa recuperação defensiva", sublinha o treinador que esteve ligado à formação do Benfica desde 2019.
Resta ao médio esperar por uma oportunidade. "Penso que está preparado para jogar na Primeira Liga. Mas o Benfica é o clube que mais investe, que tem o orçamento mais alto e, com isso, pode também contratar atletas de um nível mais elevado. Mas também tem jogadores da formação preparados. Temos o caso de João Neves que chegou e mostrou a qualidade que tem."
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Fuga de talentos, casos de Diego Moreira e Cher Ndour
Luís Castro acredita que em Paris (no caso de Ndour) ou em Londres (no Chelsea, Diego Moreira), os dois talentos têm possibilidades de começar a construir uma carreira sustentada em tempo de jogo. "Que têm as condições para fazer carreira ao mais alto nível, sobre isso, não tenho dúvida nenhuma. Porque tomaram esta opção eu não sei. São miúdos que querem o melhor para eles, procurar ter um futuro", comenta.
"A equipa A do Benfica não dá para todos. O Benfica propôs a renovação aos dois e, por isso, acreditava que eles tinham condições de continuar, condições em termos de talento. Aquilo que lhes desejo é a melhor sorte do mundo".
O aspeto mental é essencial para a afirmação destes atletas entre a elite. É essa uma das lições a retirar por Luís Castro dos anos de trabalho com jovens jogadores com talento para chegar ao topo.
"No Benfica há qualidade em praticamente todas as posições. Uma das coisas que podem fazer a diferença é a parte mental, estar ou não preparado para a exigência de jogar num estádio com 60 mil pessoas, a responsabilidade de ter de vencer todos os jogos e, acima de tudo, dentro do jogo ter a capacidade para assumir sem medo", explica Luís Castro. "As características dos jogadores são importantes, mas a parte mental é fundame
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ntal. Não é para todos jogar numa equipa do Benfica, jogar sem tremer, manter o nível concentração máxima em todos os jogos."
Depois de deixar o Benfica em junho, Luís Castro procura uma nova oportunidade no futebol. "Recebi uma ou outra proposta, mas entendi que não seria o passo certo. Estou à espera de um projeto diferente, de forma a dar o próximo passo".
O trabalho com os mais jovens continua a motivar o treinador. "Pode ser no futebol sénior, mas também pode ser um projeto de formação, se for aliciante. Um projeto que tenha jogadores de alto nível, onde possa potenciar jogadores para o mais alto nível."
Luís Castro esteve no Benfica desde a temporada 2019/2020 para treinar a equipa de sub-23. Esteve em duas finais da UEFA Youth League, incluindo na da conquista do torneio em 2021/2022. Depois do título europeu, somou ainda a primeira Taça Internacional de sub-20 na final de Montevideu, no Uruguai, diante do Peñarol.