Luís Hemir quer regressar ao Sunderland, mas agora o foco é "dar 200% pelo Moreirense"

Tiago Barquinha Gonçalves/TSF
Depois da cedência à equipa sub-23 da Juventus, Luís Hemir está de volta ao futebol português, de onde saiu em 2023, após 13 anos de ligação ao Benfica. À TSF, o jovem avançado aponta à afirmação no Moreirense, antes de pensar em altos voos, e inspira-se em figuras como o primo Renato Veiga e o antigo colega João Neves
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Luís Hemir, que era conhecido como "Luís Semedo" na formação do Benfica, está de volta ao futebol português para "mostrar a qualidade" que tem, após "dois anos difíceis". Em entrevista à TSF, o ponta de lança de 22 anos adianta que não hesitou quando surgiu a oportunidade do Moreirense, emprestado pelo Sunderland, o atual quarto classificado da liga inglesa.
Depois de meio ano sem jogar, Luís Hemir estreou-se pelo clube vimaranense no início do mês e leva dois encontros como suplente utilizado, diante do FC Arouca e o Sporting de Braga. Recuperado dos problemas físicos, o objetivo é ir "em busca de um lugar na equipa" para ajudar a formação de Vasco Botelho da Costa, atual sexta classificada do campeonato, "a garantir a manutenção" o mais depressa possível, antes de pensar em voos mais altos.
Em meados de dezembro, na 14ª jornada do campeonato, Luís Hemir vai defrontar o Benfica pela primeira vez, após 13 anos nas águias, desde as escolinhas até à equipa B. "Sem rancor" por não se ter estreado pela equipa principal, o avançado guarda no currículo dois títulos internacionais e a convivência com jogadores como João Neves, que acredita que um dia pode ser o melhor do mundo, ou Diego Moreira, "um fora de série". Com um trajeto nas seleções sub-19 e sub-20 de Portugal, inspira-se também no primo Renato Veiga para chegar um dia à seleção principal.
Na formação do Benfica era conhecido por Luís Semedo, mas agora surge com o nome de Luís Hemir. Qual é o motivo?
Luís Hemir é como os meus familiares e amigos mais chegados me tratam. Então prefiro dessa forma.
O Luís Hemir estreou-se pelo Moreirense há duas semanas e leva dois jogos como suplente utilizado. Como tem sido a sensação de voltar aos relvados e, neste caso, ao futebol português?
Foram duas jornadas onde voltei a competir, passado um longo tempo de paragem e tem sido muito bom. A integração na equipa, com os meus colegas, e o regresso ao campo fazem com que me sinta de volta outra vez.
A pausa internacional e o fim de semana de Taça de Portugal, onde o Moreirense já não está presente, é negativa para quem estava a somar minutos? Ou olha como uma oportunidade para poder trabalhar de um modo ainda mais assertivo?
De certa forma é negativo porque é sempre bom ter competição no final da semana, mas também vejo pelo outro lado: treinar de uma forma mais assertiva e continuar a trabalhar dia após dia. É o que tenho feito.
O Luís chegou ao Moreirense no final de agosto, mas só se estreou no início de novembro. Essa ausência deveu-se a que fatores?
Não comecei logo a competir por causa da forma física. Foram cinco meses sem jogar e esse foi o principal motivo. Além disso, o trabalho dos meus companheiros de posição [Guilherme Schettine e Yan Lincon] está a ser bem feito e respeito muito isso. Agora já voltei e estou em busca do meu lugar na equipa.

Créditos: Moreirense
O que o motivou a assinar pelo Moreirense?
Tem um bom projeto e o grupo Black Knight [detentor do Moreirense, também proprietário de Bournemouth (Inglaterra), Hibernian (Escócia), Lorient (França) e Auckland (Nova Zelândia)] também está a crescer. E é sempre bom voltar a casa, sobretudo após dois anos difíceis. Apareceu a oportunidade do Moreirense, que é um clube acolhedor, e não pensei duas vezes.
A nível individual, quais são os objetivos para esta época?
É só crescer e ser melhor jogador dia após dia. Depois, quanto ao resto, o futuro dirá.
Normalmente pergunta-se a um ponta de lança que meta coloca em termos de golos. O Luís pensa nisso ou prefere olhar para o dia-a-dia?
Sou mais adepto do jogo após jogo porque não lido muito bem com expetativas.
O sistema que o Moreirense utiliza é adequado para as características do Luís ou preferia jogar numa tática com dois avançados centro?
Sempre estive habituado a jogar num sistema só com um avançado, sozinho na frente. No entanto, se acabarmos por jogar com dois avançados, também me consigo adaptar.
A nível coletivo, o Moreirense tem feito um bom arranque de temporada, à exceção da Taça de Portugal. O que explica este início positivo?
O grupo é muito bom, toda a gente acaba por ir ao encontro das ideias do treinador e isso ajuda, reflete-se dentro de campo. A equipa sabe jogar, impor o seu jogo, tem as ideias claras e isso transmite-se para quem está de fora.
É possível pensar num lugar europeu?
O primeiro objetivo é garantir a manutenção e depois, mais à frente, ir jogo a jogo para vermos no que dá.
Luís Hemir inspira-se no primo Renato Veiga: "Posso ter o mesmo percurso que ele"

Créditos: Sunderland
O Luís está emprestado pelo Sunderland. Tem alguma pena de não estar no plantel dos Black Cats nesta época de regresso à Premier League?
Não. Eu desejo todo o sucesso à minha equipa, já que ainda sou jogador do Sunderland, mas tenho de me focar onde estou e dar 200% pelo Moreirense.
Ainda assim, certamente está a acompanhar à distância o percurso surpreendente do Sunderland, quatro classificado do campeonato inglês. Como analisa essa campanha?
Realmente tem sido um excelente percurso e estão muito bem trabalhados. O treinador é bom e estão em boa forma.
A época no Moreirense pode ser importante para, eventualmente, voltar ao Sunderland? Isso está na cabeça do Luís?
Está, mas, como já disse, prefiro pensar sempre dia após dia, jogo após jogo, e tentar fazer sempre o melhor. Depois, quando for a altura de tomar decisões, escolho o meu futuro.
Na temporada passada também esteve emprestado, neste caso à equipa sub-23 da Juventus. Como foi a experiência num grande clube italiano?
Foi uma grande experiência num futebol diferente do português, mas a adaptação foi boa. É um país um pouco mais idêntico a Portugal, com mais diferenças em relação a Inglaterra. A Juventus é um clube grande, conhecido, com muitos adeptos, e até acabou por ser um ano bom para o meu crescimento.
Chegou a treinar com a equipa principal?
Sim, treinei algumas vezes e, entretanto, o meu primo, Renato Veiga, acabou por ir para lá, e também foi bom ter alguém perto para me ajudar.

Créditos: Juventus
Como é que olha para a evolução do Renato Veiga, presença assídua na seleção?
É motivo de orgulho. Cresceu bastante fora do país, depois de não ter a oportunidade em Portugal que, se calhar, merecia na altura, mas agora está a mostrar-se. Só desejo a melhor sorte do mundo e que continue a brilhar.
É um jogador com capacidade para se fixar como o titular indiscutível da seleção?
A concorrência é realmente grande, mas, também por ser meu familiar, acredito que tem tudo para se afirmar. Com o trabalho a ser bem feito, as recompensas acabam por vir.
Quando se vê o trajeto do Renato Veiga, é possível pensar num percurso semelhante para si, já que o Renato teve de sair do Sporting para se afirmar e aconteceu o mesmo com o Luís em relação ao Benfica?
Por um lado, acredito que sim, que posso ter o mesmo percurso que ele, mas agora voltei a Portugal e, nesse aspeto, pode ser diferente. E acredito que pode ser positivo.
Também coincidiu com outros dois portugueses, o Alberto Costa e o Francisco Conceição. Que opinião tem sobre eles?
São dois jogadores que têm vindo a mostrar valor. O Alberto está a fazê-lo agora no Porto e o Francisco já mostrou cá e está a mostrar fora também. São dois jogadores de grande qualidade.
No caso do Alberto, é um jogador que pode ambicionar a seleção a curto prazo?
A concorrência é alta. Acho que o Alberto tem de fazer o seu trabalho e depois a decisão cabe a quem convoca.
"As coisas não acontecem por acaso e não tenho rancor nem nada do género pelo Benfica"
O Luís esteve no Benfica desde as escolinhas até à equipa B. Olhando para trás, como descreve esse percurso?
O Benfica deu-me tudo e contribuiu para o jogador que sou hoje. Foram 13 anos de muita aprendizagem e sou grato pelo que o Benfica fez por mim.
As vitórias na Youth League e na Finalíssima Intercontinental sub-20 são os marcos que guarda com mais carinho?
A nível de títulos, sim. São os dois títulos que deram mais prazer em conquistar. Visto que acabei por marcar nas duas finais, foi a cereja no topo do bolo.

Créditos: Benfica
No Benfica jogou com muitos talentos. Quer destacar algum?
São tantos. O António [Silva], o Diego Moreira, a quem sou muito chegado, o João Neves, o Samuel Soares, o Tomás [Araújo]... há ainda o Pedro Santos, o Martim Neto e o Cher Ndour. Naquela equipa eram todos grandes jogadores.
Há outros jogadores a aparecerem agora na equipa principal do Benfica, como João Veloso, Ivan Lima e João Rego, que chegaram a trabalhar com o Luís. Que perspetivas tem para o futuro deles?
São jogadores com muita qualidade. O João já trabalha há algum tempo com a equipa principal e, quanto aos outros dois, acredito que certamente vão conseguir um dia mostrar o valor deles às pessoas de fora, aos adeptos do Benfica e não só.
O Diego Moreira saiu do Benfica sem se afirmar na equipa principal e foi contratado pelo Chelsea. A que patamar pode chegar?
Acredito num patamar alto também. Agora é internacional belga, o que já é um passo grande para a carreira dele, mas acredito que ainda consegue muito mais porque tem potencial para isso. Acredito plenamente nas capacidades dele. É um jogador fora de série.
Dos jogadores com quem trabalhou no Benfica, o João Neves é o que está num nível mais alto. É impossível pensar numa bola de ouro para ele?
Ele já tem ultrapassado tantos obstáculos, sendo tão novo, que um dia pode ser possível. Não digo que seja impossível para aquele rapaz. O João é um miúdo com uma qualidade e uma capacidade que poucos têm. Se calhar, até agora não vi igual.
Foi o jogador mais predestinado daqueles com quem conviveu na formação do Benfica?
Só a partir dos sub-23 é que começámos a jogar todos juntos e, na altura, o João até não tinha assim tantos minutos connosco. Só que, cada vez que entrava, aproveitava as oportunidades e depois começou a passar à frente dos colegas. Subiu à equipa A, a mostrar a sua qualidade e o seu verdadeiro valor, algo que tem feito até os dias de hoje.
Apesar de ter estado tanto tempo no Benfica, sente que a estadia do Luís no Seixal foi 'curta demais'? Ou seja, merecia, pelo menos, uma oportunidade na equipa principal?
O que aconteceu no Benfica, de certa forma, já passou. As coisas não acontecem por acaso e não tenho rancor nem nada do género pelo clube. Desejo toda a felicidade ao Benfica e aos benfiquistas.
Está a aproximar-se o Moreirense-Benfica, que se joga em dezembro. Já imaginou esse jogo?
Tenho sempre um carinho pelo Benfica e acaba por ser um jogo especial, mas, na hora do jogo, quero defender o clube onde estou até ao apito final. É com essa mentalidade que vou para o jogo.
Tem alguma ânsia de marcar o primeiro golo pelo Moreirense, seja contra o Benfica ou contra outra equipa?
Há sempre uma pequena ansiedade e aquela vontade também de querer fazer o golo. Tenho de continuar com o meu trabalho e certamente o golo irá chegar.
O Luís ainda é muito novo, mas no futebol utiliza-se, muitas vezes, a expressão «relançar a carreira». É isso que quer fazer no Moreirense ou prefere olhar para esta experiência de outra forma?
Vejo como uma oportunidade que o Moreirense me deu para crescer. Não digo que vim para cá para relançar a carreira, mas sim para aproveitar e ter os minutos. E, depois, sim, mostrar o que realmente ainda sou capaz de fazer e a qualidade que tenho.
E o que o Luís sente que é capaz de fazer no mundo do futebol, falando numa perspetiva mais a longo prazo?
Ainda tenho alguns objetivos e é por isso que também luto diariamente. Obviamente quero também jogar num outro patamar, o patamar de Liga dos Campeões, e chegar um dia até à seleção nacional. Acredito que um dia vou concretizá-los.
