"Não tens noção da dimensão": os segredos de Gyökeres, dos elogios ao Sporting à vida privada
Um antigo treinador do avançado garante que nada escapa à análise de Viktor: dos amarelos vistos na liga às cargas físicas que têm de ser geridas, até ao cuidado na escolha do clube certo para o momento da carreira.
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"Não tens noção da dimensão deste clube. Não estás a perceber o que é o Sporting." Azrudin Valentić lembra-se bem das palavras que Viktor Gyökeres lhe disse quando falaram ao telefone após um primeiro contacto do avançado com a realidade do clube que acabara de escolher.
Valentić treinou o sueco no início da carreira do atleta - no impronunciável IF Brommapojkarna, clube dos arredores de Estocolmo - e mantêm desde então uma relação próxima.
"A energia dele, a atitude no trabalho, em cada treino, em cada exercício, é algo incrível", realça o treinador bósnio. Viktor Gyökeres sabe que o primeiro impacto junto dos adeptos é essencial, e por isso gosta de jogar como treina.
Valentić não conheceu muitos jogadores desta geração com as características de Viktor. "Penso que todos os adeptos perceberam, depois de um ou dois jogos, que estamos a falar de um jogador que se recusa a desistir. É inacreditável a forma como joga, em especial, para o futebol de hoje."
O telemóvel na mesa de cabeceira à hora certa
O maior talento de Viktor Gyökeres, ou pelo menos o que merece o maior elogio do antigo treinador, está na atitude fora dos relvados: "O que as pessoas não podem ver é a atitude que demonstra nas conversas em privado. Nunca está feliz, mesmo que marque num jogo, que faça uma assistência, ele nunca está satisfeito."
Azrudin Valentić concretiza que "para um jogador de futebol, a atitude na vida privada é essencial. Há que ter a disciplina para colocar o telefone de lado na hora de ir dormir - o que não é fácil com o apelo das redes sociais -, porque só assim é possível ter o descanso necessário para recuperar fisicamente".
"Tenho uma relação especial com ele. Acredito nele desde que tinha 16 ou 17 anos, acredito desde essa altura que ele vai chegar ao topo. Trabalhei com ele dois anos e depois trabalhei com ele sempre que estava de férias. Mas não é só trabalho, para mim é também uma forma de mentoria. Eu tenho dois filhos, mas para mim o Viktor é como um terceiro."
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Se a atitude de Gyökeres já é singular por si só, torna-se rara no futebol de formação nórdico, e a explicação vai além dos relvados: "Num país como a Suécia, onde há tanto conforto, onde com alguma facilidade os jovens podem encontrar um emprego a ganhar dois, ou três, ou quatro mil euros por mês - o que é muito dinheiro em qualquer país -, é incrível conhecer um jovem que só pensa em atingir o potencial, e em trabalhar, trabalhar e trabalhar."
Uma viagem para Portugal e não para a Premier League
"Isto, para mim, é talento, é talento para o futebol profissional. Não se trata apenas de ter aptidão para correr, falamos de uma atitude profissional", salienta Valentić.
Gyökeres teve propostas para jogar na Premier League, mas acabou por escolher o Sporting. "A decisão de ir para um clube e para uma liga onde a equipa vai dominar a maioria dos jogos é uma boa opção para o ponta de lança. É a oportunidade para marcar muitos golos", nota. E a realidade que Gyökeres encontrou em Portugal não só surpreendeu o atleta, como confirmou que fizera uma escolha acertada.
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"Um par de dias depois do negócio [transferência do Coventry City para o Sporting] ele ligou-me e disse: 'Não tens ideia de quão grande é o Sporting.' Falou-me das pessoas que trabalham no clube, nos escritórios, no centro de treinos, que todos são tão profissionais que ele sentia que tinha de dar tudo pelo clube", revela.
Mas Gyökeres sabia que tinha de causar impacto logo nos primeiros jogos.
As faltas, amarelos, a recuperação física: cuidado nos pormenores
Falemos do estilo de jogo. "Se repararem, se tiverem esses dados, a velocidade do Viktor nos movimentos é tão elevada aos primeiros minutos de jogo como aos 93". Isto deve-se à intensidade", aponta o treinador.
"A vida privada, a dieta, tudo é adaptado ao futebol. Só assim ele pode jogar com esta intensidade". É jogar, treinar e repousar. "Se formos analisar os dados físicos dele, a quantidade de sprints que ele faz por jogo, estamos a falar de algo de loucos. É por isso que, para ele, é importante ouvir os treinadores, ouvir os fisiologistas, só dessa forma vai conseguir fazer uma boa temporada."
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Os primeiros dias acrescentaram alguma ansiedade à vida do sueco, também pela dimensão da transferência para Portugal, mas Valentić vê, com especial felicidade, a forma como Gyökeres "está a jogar neste arranque de temporada"
Confiante de que a lesão contraída no joelho "não vai travar o momento de forma dele", comenta até que "talvez seja bom dar algum descanso ao corpo, porque teve um número muito grande de jogos em pouco tempo, pela seleção, para a liga portuguesa e para a Liga Europa".
A liga portuguesa e os amarelos
Antes de entrar em velocidade cruzeiro, o avançado sueco foi medindo a realidade a que estava a chegar, preparando-se para o contraste entre o futebol português e a segunda divisão inglesa.
"No futebol inglês os árbitros permitem um tipo de contacto físico que em Portugal não é permitido. Foi por isso que Viktor viu amarelo muito cedo em dois jogos consecutivos [amarelos à jornada 3 com o Famalicão, aos 23", e com o Braga à jornada 4 aos 27"]. Já percebeu que tem de adaptar-se para ser produtivo para a equipa", conta.
Azrudin Valentić assinala ainda que o jogador tem consciência da pressão colocada sobre os seus ombros por uma transferência recorde: "Acredito que ele pode acrescentar algo de realmente diferente."