Feyisa Lilesa não se conteve. Depois de cruzar a meta da maratona "lutou" pelo seu povo, de braços cruzados.
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O momento era de festa. Fevisa Lilesa ficou em segundo lugar na prova masculina de maratona. Com a medalha de prata conquistada, o atleta não resistiu e cruzou a meta com os braços cruzados e juntos à cabeça.
Mais tarde, Feyisa Lilesa explicou o motivo deste gesto. Deixou quem o ouvia num estado de perplexidade.
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O atleta etíope explicou os braços cruzados e levantados junto ao rosto: "É um sinal de apoio aos manifestantes do meu país que foram mortos pelo governo", começou por dizer. "Eles faziam o mesmo sinal. Queria mostrar que não estou de acordo com o que está a acontecer. Tenho amigos e familiares presos. O governo está a matar o meu povo, os Oromos, que não tem recursos", acrescentou.
A tribo Oromo, historicamente marginalizada pelo governo, revoltou-se por temer perder as terras. Uma revolta que foi travada pelo executivo. A organização Human Rights Watch diz que já morreram por esta causa cerca de 400 pessoas às mãos das forças de segurança.
E agora? O que pode acontecer? Nem Feyisa Lilesa sabe, mas admite que algo de mal pode acontecer. Sem meias palavras declarou: "Talvez seja morto quando chegar, ou então preso. Também posso ser detido no aeroporto ou forçado a mudar de país. Como não tenho outro visto... talvez fique aqui", concluiu.
"Em 9 meses mais de mil pessoas morreram. Outras foram acusadas de traição. É uma situação muito perigosa para o nosso povo. A minha mãe, o meu pai e os meus irmãos não foram presos, mas outras pessoas sim. Não podes falar lá. Não podes falar com outras pessoas sobre política... Nada. Tudo o que escreveres tem de ser a favor do governo", acrescenta o maratonista etíope.
O maratonista confessou que gostaria de ir para os Estados Unidos da América. No entanto, e para já, talvez não saia mesmo do Brasil. A mulher e os quatro filhos estão em Tóquio, onde o atleta treina, mas a restante família continua na Etiópia e Lilesa teme por eles.