O ministro da Defesa pediu hoje à oposição para viabilizar a proposta de Orçamento do Estado para 2014, numa demonstração que o Parlamento é capaz de construir diálogos e compromissos.
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«O óbvio, para os partidos da oposição, é votar contra o Orçamento. O óbvio é criticar o Orçamento. O óbvio é dizer que o Orçamento é obra do Governo e ficar por aí. Não peço que votem favoravelmente um documento com o qual não concordam. Peço que o viabilizem na generalidade, que apresentem propostas alternativas, que o discutam até à exaustão na especialidade», afirmou o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar Branco, numa intervenção no segundo dia de debate da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2014.
Insistindo para que o Parlamento vá «para além do óbvio», demonstre que o debate não estava decidido há dois meses atrás e que é capaz de construir diálogos e compromisso, o ministro da Defesa classificou o OE para 2014 como «um documento estruturante da ação do Estado».
Numa intervenção de cerca de dez minutos, e enquanto fora do plenário PS e PSD se desdobravam em declarações acerca do convite dos sociais-democratas para debaterem a reforma do Estado e que foi declinado pelos socialistas, José Pedro Aguiar Branco reforçando que a necessidade «óbvia, evidente e inteligível de reformar o Estado» não desaparece porque alguns decidem ignorá-la.
«Alguns podem argumentar que há diferenças insanáveis. Mas, li no outro dia que Loures vai ser governada em coligação. Pelo PCP e pelo PSD. Dois partidos tão diferentes que souberam entender-se no que consideravam essencial», disse, numa alusão ao acordo conseguido pelo antigo líder da bancada comunista Bernardino Soares, que conquistou a câmara de Loures nas eleições autárquicas do final de setembro.
Antecipando críticas aos apelos de consenso do Governo e da maioria PSD/CDS-PP, o ministro da Defesa assegurou que não se trata de «tática política» para comprometer a oposição ou ocupar o espaço mediático.
«Se há coisa que ficou clara nestes dois anos é que esta maioria nunca fugiu à responsabilidade de governar. Nunca precisou de terceiros. Nunca precisou de companhia nas decisões. Mesmo nas mais impopulares. Nunca precisámos de desculpas», notou, lembrando também que «todos os críticos são unânimes quando julgam este Governo como um dos piores na arte da comunicação política».
Contudo, continuou, Portugal atravessa uma «época excecional da sua história» e a falta de entendimento tem custos financeiros, reais e efetivos para o Estado e os portugueses.
«São essas consequências que vão ditar a forma como o país e dez milhes de portugueses saem do programa de ajustamento financeiro em 2014. Podemos preferir ignorar esta realidade, nas a verdade é que a condição de sucesso do nosso destino está diretamente associada à forma responsável, rigorosa como discutirmos e aprovarmos este OE», dramatizou o ministro da Defesa.
Na sua intervenção, Aguiar Branco lamentou ainda o tom do debate político, considerando que se passou «todos aos limites» quando se começaram a utilizar expressões como «ladrões», «criminosos», «traidores» ou mesmo «declaração de guerra» acerca da reforma do Estado.
«Sejamos claro: nenhum deputado desta Assembleia gosta mais do seu país do que eu. Nenhum deputado desta Assembleia gosta mais do seu país do que qualquer membro deste Governo», garantiu.