O antigo administrador do BES Rui Silveira considerou hoje que o governador do Banco de Portugal largou uma «bomba atómica» ao aplicar a resolução ao banco, considerando que havia outras soluções, como a recapitalização com fundos públicos.
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«A medida tomada pelo senhor governador [Carlos Costa] foi a bomba atómica. Aí já não havia recuo», lamentou Rui Silveira perante os deputados que integram a comissão de inquérito ao caso Banco Espírito Santo (BES)/Grupo Espírito Santo (GES), que cerca da 22:15 ainda o estavam a ouvir. Perante a comissão parlamentar, o antigo administrador jurídico do BES manteve que «a medida foi excessiva» e que «devia ter havido maior ponderação».
Rui Silveira disse que o Banco de Portugal enviou uma carta a 28 de julho passado a pedir ao banco para apresentar um plano de reestruturação em 48 horas, mas que «a dia 27 já estava contratada uma equipa de advogados para preparar a resolução e já havia contactos na Comissão Europeia». O mesmo responsável criticou o exagero nas provisões exigidas pela consultora KPMG nas demonstrações dos resultados semestrais (traduzidos por um prejuízo histórico de 3,6 mil milhões de euros), apontando para a maturidade longa das obrigações que tinham sido emitidas.
Disse também que não havia necessidade de provisionar os cerca de 270 milhões de euros que constavam nas cartas de conforto passadas a dois investidores institucionais venezuelanos, já que as mesmas assentavam no pressuposto da sua participação num aumento de capital da 'holding' Rioforte, que não se veio a realizar. Rui Silveira rematou com a questão da validade da garantia soberana de Angola.
Caso estes três requisitos tivessem sido levados em conta, o BES teria mantido no final do semestre os rácios de capital mínimos exigidos pelas autoridades. Segundo Silveira, o rácio 'core tier 1' do BES ficaria nos 7,3%. «Acho que houve precipitação», reforçou, considerando que «não se devia dar cabo de uma instituição com 150 anos».
O ex-administrador sublinhou que «a própria legislação diz que a resolução é a última das últimas soluções», defendendo, por isso, uma «intervenção anterior [por parte do Banco de Portugal] com substituição da administração». «O banco ainda existiria e estaríamos todos muito melhor», opinou. Rui Silveira referiu-se várias vezes à possibilidade de ter sido feita uma recapitalização pública transitória, a exemplo do que aconteceu noutros bancos, como o BPI, o BCP ou o Banif.
«Nunca passou pela cabeça de Vítor Bento que fosse aplicada a resolução. Aliás, o senhor governador disse a 18 de julho que havia uma linha de 6,4 mil milhões de euros disponível para a recapitalização», assinalou Rui Silveira.