O Presidente da República, Cavaco Silva, reiterou hoje que todas as audiências que concede são reservadas e considerou não ter esclarecimentos adicionais a dar sobre o Banco Espírito Santo (BES).
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Questionado sobre a carta endereçada pelo antigo presidente executivo do BES Ricardo Salgado à comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, onde revela que se reuniu duas vezes em 2014 com o Presidente da República tendo alertado Cavaco Silva sobre os «riscos sistémicos» envolvendo o Grupo Espírito Santo (GES) e o BES, o chefe de Estado repetiu inúmeras vezes que tudo o que se passa nas audiências que concede «é reservado».
«Sempre foi regra na Presidência da República e hei de mantê-la que tudo o que se vai dizer ao Presidente da República é reservado», afirmou Cavaco Silva.
Notando que sempre que «o presidente de um grande banco» pede uma audiência ela é concedida, à semelhança do que acontece com outras entidades, Cavaco Silva relevou que já recebeu «os presidente de todos os grandes bancos e várias vezes».
«Faz parte da função do Presidente da República e seria mau se não o fizesse, porque senão estaria a desprezar o conhecimento que deve ter da realidade nacional», disse, sublinhando que ao longo dos seus dois mandatos em Belém já concedeu mais de 2.500 audiências e, em todas, é mantida «a reserva total do que ali se passa».
Interrogado sobre se vai responder às questões dos deputados do PS, do PCP e do BE da comissão de inquérito BES/GES sobre as reuniões tidas em 2014 com Ricardo Salgado, Cavaco Silva afirmou não ter «esclarecimentos adicionais a prestar», desde logo porque o chefe de Estado «não tem nenhuma competência executiva, não toma nenhuma decisão em relação ao sistema financeiro ou outras áreas».
Reiterando nunca revelar o que se passa nas audiências que concede, quer sejam privadas ou públicas, o Presidente da República adiantou ainda que as informações mais importantes que recebe são do Governo e que em primeiro lugar é informado pelo executivo.
Sobre a possibilidade de lhe terem sido entregues documentos «por parte dos bancos», Cavaco Silva insistiu que não tem poderes executivos, mas que, caso tenham sido deixados alguns documentos, eles vão para os arquivos da Presidência da República ou estão junto dos assessores de Belém.
Cavaco Silva, que falava aos jornalistas no final de uma cerimónia na Gare Marítima de Alcântara, onde se assinalou o 30.º aniversário da empresa de navegação Transinsular, lembrou ainda afirmações de jornalistas e políticos sobre as declarações que fez em Seul, na Coreia do Sul, em julho, quando questionado sobre o caso do BES.
«Na Coreia do Sul não fiz nenhuma declaração sobre o BES, fiz três afirmações sobre o Banco de Portugal», frisou, notando que é o único político em Portugal que «tudo o que diz» é depois colocado no site da Presidência da República.
Na ocasião, o Presidente da República referiu que o Banco de Portugal tinha atuado «muito bem» a «preservar a estabilidade e a solidez» do sistema bancário português e disse considerar que os portugueses podiam confiar no BES «dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa».
Um mês de depois de ter proferido estas declarações, a Presidência da República divulgou, «por uma razão de transparência», a transcrição na íntegra das respostas de Cavaco Silva aos jornalistas a propósito do Grupo Espírito Santos.
Para além do BES, o Presidente da República escusou-se a especular sobre o futuro na Grécia depois da vitória do Syriza, mas lembrou que a política económica de cada Estado da União Europeia é «matéria de interesse comum».
«O resultado de umas eleições livres e democráticas tem de ser respeitado. O Presidente da República em público não deve especular sobre aquilo que pode acontecer no futuro».
«Devemos esperar pelas entidades competentes europeias que irão analisar essas políticas anunciadas ou que vão ser aprovadas pelo Governo grego e se elas se conformam ou não com regras comunitárias», referiu o chefe de Estado, que falava aos jornalistas no final de uma cerimónia na Gare Marítima de Alcântara, onde se assinalou o 30.º aniversário da empresa de navegação Transinsular.